Patrimônio Histórico e Urbânidade em Rio Grande:

A cidade do Rio Grande por sua tradição histórica e por sua importância dentro do cenário ecônomico do Brasil sul meridional sempre foi uma região de confluência de interesses dos mais diversos povos e de tendências políticas ou ecônomicas. no decorrer destes ultimos duzentos e setenta e três anos a cidade se desenvolveu apesar de todas as dificuldades que enfrentou: problemas com imigração, conflito de fronteiras, dificuldades com a natureza, invasões espanholas e crises ecônomicas. superados esses problemas com muito sangue, suor e lágrimas, foi notável o desenvolvimento desta cidade, pois, muito fácil é observar o crescimento que se consubstanciou na forma de nossos prédios históricos e realizações culturais, entre elas podemos citar: a primeira biblioteca do RS, Câmara de Vereadores, industria textil, linha de bondes regular e refinaria de petróleo do país, entre outras.

Fica estabelecido que é na observação e valorização do nosso rico passado e nas nossas construções históricas que estão as soluções para os problemas de nossa cidade. Hoje nas grandes capitais da Europa o turismo histórico é uma realidade, pense nisso e vamos mudar a conjuntura....


quinta-feira, 2 de abril de 2015

O que foi o projeto "Bota a baixo" no Rio de Janeiro?

REESTRUTURAÇÃO DO RIO DE JANEIRO....consequências para arquitetura nacional.


A cidade do Rio de Janeiro tinha o principal porto de exportação e importação do país e o terceiro porto em importância no continente americano, depois de Nova York e Buenos Aires. Mais que isso, como capital da república ela era a vitrine do país. Num momento de intensa demanda de capitais, técnicos e imigrantes europeus, a cidade deveria operar como um atrativo para os estrangeiros. Mas ao contrário, ela era acometida por uma serie de endemias, que assolavam e vitimavam sua população, e eram ainda mais vorazes pra com os estrangeiros, os quais não dispunham dos anticorpos longamente desenvolvidos pela população local. Por isso a cidade tinha, desde o início do século XIX, a indesejável reputação de “tumulo do estrangeiro”.
As autoridades conceberam um plano em três dimensões para enfrentar todos esses problemas. Executar simultaneamente a modernização do porto, o saneamento da cidade e a reforma do porto. A reforma urbana coube ao engenheiro urbanista Pereira Passos, que havia acompanhado a reforma urbana de Paris sob o comando do Barão de Haussmann. A regeneração se completou no fim de 1904. Seu marco foi a inauguração da Avenida Central, atual Avenida Rio Branco, eixo do novo projeto urbanístico da cidade, contemplada com um concurso de fachadas que a cercou de um décor arquitetônico Art Noveau, em mármore e cristal, combinando com elegantes lampiões da moderna iluminação elétrica e as luzes das vitrines das lojas de artigos finos importados. As revistas mundanas e os colunistas sociais da grande imprensa incitavam a população afluente para o desfile de modas na grande passarela da avenida, os rapazes no rigor dos trajes ingleses, as damas exibindo as últimas extravagâncias dos tecidos, cortes e chapéus franceses.
A atmosfera cosmopolita desceu sobre a cidade renovada era tal que, as vésperas da Primeira Guerra Mundial, as pessoas ao se cruzarem no grande bulevar não se cumprimentavam mais à brasileira, mas repetiam uns aos outros: “Vive La France!”.
No afã do esforço modernizador, as novas elites se empenhavam em reduzir a complexa realidade social brasileira, singularizada pelas mazelas herdadas do colonialismo e da escravidão, ao ajustamento em conformidade com padrões abstratos de gestão social hauridos de modelos europeus ou norte-americanos.

Jürgen Habermas descreveu com muita clareza como se operou, nas sociedades européias ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX a gênese simultânea do grande publico dos salões, dos teatros e da imprensa, por um lado e, pelo outro, o processo de privatização como uma emancipação psicológica da consciência burguesa, derivada da progressiva autonomia dos indivíduos no mercado capitalista e dos cidadãos na ordem política representativa. Ambos esses desenvolvimentos tem, portanto, uma mesma e inseparável raiz histórica, em razão da qual só poderão ser interpretados em suas relações recíprocas: “assim como a privacidade de um se funda na dimensão pública do outro, e a subjetividade do individuo privado se refere desde o inicio à esfera pública”.
 Segundo o autor, duas esferas coexistem na sociedade: o sistema e o mundo da vida. O sistema refere-se à 'reprodução material', regida pela lógica instrumental (adequação de meios a fins), incorporada nas relações hierárquicas (poder político) e de intercâmbio (economia). O mundo da vida é a esfera de 'reprodução simbólica', da linguagem, das redes de significados que compõem determinada visão de mundo, sejam eles referentes aos fatos objetivos, às normas sociais ou aos conteúdos subjetivos.

A intensificação dos contatos e das trocas internacionais promovida pela instauração do regime republicano naturalmente acelerou esse curso de transformações históricas. Na dinâmica da nova ordem, tanto ampliou-se a construção de uma esfera pública, reforçada pela expansão crescente da imprensa e das oportunidades de convívio cultural, quanto se agudizaram os sentidos e valores associados ao desfrute de experiências de privacidade. Esse, contudo, é o panorama ideal, na medida em que as condições históricas do país tornam tanto a participação no contexto do espaço público, privilégio de poucos.

A estabilização brasileira assinala uma sincronia com a ordem internacional. O enriquecimento baseado no crescimento explosivo dos negócios formou o pano de fundo do que se tornou conhecido como “belos tempos”.

Pereira Passos foi nomeado engenheiro do Ministério do Império em 1874, cabendo ao mesmo acompanhar todas as obras do governo imperial. Integrou a comissão que iria apresentar o plano geral de reformulação urbana da capital, incluindo o alargamento de ruas, construção de grandes avenidas, canalizações de rios entre outras medidas urbanas e sanitárias. O levantamento realizado de 1875 a 1876 seria a base do futuro plano diretor da cidade, posto em prática na administração de Passos como prefeito.

O POSITIVISMO COMO FUNDAMENTO DA CRIAÇÃO DE UMA NOVA ARQUITETURA:

O estado positivista é o termo fixo e definitivo em que o espírito humano descansa e encontra a ciência. As sociedades evoluem segundo essa lei e os indivíduos em outro plano, também realizam a mesma evolução.
O positivismo não aceita as classes sociais com o significado geralmente empregado na atualidade. Aceita sim que toda a sociedade desde a mais primitiva, há dirigentes e dirigidos. Os dirigentes devem sempre ser os mais capazes, isto é, aqueles que influem na educação e na cultura da espécie humana: são os sacerdotes, os filósofos, os cientistas, os jornalistas, os professores..., ou melhor, os teóricos que modificam o pensamento dos indivíduos através de sua pregação e de sua conduta moral.
Embasado na concepção biológica da sociologia, Augusto Comte entende a sociedade como um organismo cujas partes são heterogêneas, mas solidarias, pois se orientam para a conservação do conjunto. O progresso da sociedade é caracterizado, assim pela incessante especialização das funções, como todo o desenvolvimento orgânico, para maior aperfeiçoamento na evolução dos órgãos particulares .
O Positivismo, “como regime definitivo da razão humana frente à ação dissolvente da metafísica” surgiu do progressismo, baseado no desenvolvimento cientifico que dominou todo o século XIX, com o objetivo de aproveitar as virtudes do progresso, ou da evolução progressiva, pela compreensão racional e cientifica do problema da ordem determinando os elementos fundamentais de toda sociedade humana.
A política positiva não reconhece nenhum direito além do de cumprir o dever, e assim, nega categoricamente a própria existência do direito como tal. Ele entende que o positivismo não admite senão deveres para com todos; pois que seu ponto de vista, sempre social, não pode comportar nenhuma noção de direito, constantemente fundada na individualidade. O homem como individualidade não existe, portanto, na sociedade cientifica, senão como membro de outros grupos, desde o familiar – unidade básica por excelência até o político.

Também não existe lugar para liberdade de consciência, a consciência para Comte, não determina sozinha o modo de existência prática, como não bastam às condições materiais da vida para definir a consciência. E a própria soberania popular é um termo vazio de sentido em sua política positiva, onde a ditadura se exercita num despotismo espiritual e temporal, pois adota a principio da força como fundamento de governo.
No que tange ao processo de desenvolvimento da arquitetura eclética no Brasil, podemos dizer que ela é a manifestação construtiva de um segmento social representado por uma elite dominante, que através das idéias do positivismo procurava marcar de maneira definitiva o seu papel de superioridade diante de uma grande maioria populacional existente até então no país. A diferenciação marcante entre o estilo de morar de ricos e pobres deixava clara a divisão entre aqueles que deveriam tomar as rédeas do poder no estado e aqueles que deveriam se submeter aos ditames dessa mesma elite. A separação entre o publico e o privado ficou marcado de maneira indelével como o ocorrido no projeto “Bota a Baixo” do prefeito Pereira Passos na cidade do Rio de Janeiro em 1904. Era o momento oportuno para as elites consolidarem o poder republicano em oposição a aqueles que ainda viam no império uma maneira mais esclarecida de administrar o Brasil.