Patrimônio Histórico e Urbânidade em Rio Grande:

A cidade do Rio Grande por sua tradição histórica e por sua importância dentro do cenário ecônomico do Brasil sul meridional sempre foi uma região de confluência de interesses dos mais diversos povos e de tendências políticas ou ecônomicas. no decorrer destes ultimos duzentos e setenta e três anos a cidade se desenvolveu apesar de todas as dificuldades que enfrentou: problemas com imigração, conflito de fronteiras, dificuldades com a natureza, invasões espanholas e crises ecônomicas. superados esses problemas com muito sangue, suor e lágrimas, foi notável o desenvolvimento desta cidade, pois, muito fácil é observar o crescimento que se consubstanciou na forma de nossos prédios históricos e realizações culturais, entre elas podemos citar: a primeira biblioteca do RS, Câmara de Vereadores, industria textil, linha de bondes regular e refinaria de petróleo do país, entre outras.

Fica estabelecido que é na observação e valorização do nosso rico passado e nas nossas construções históricas que estão as soluções para os problemas de nossa cidade. Hoje nas grandes capitais da Europa o turismo histórico é uma realidade, pense nisso e vamos mudar a conjuntura....


quinta-feira, 2 de abril de 2015

O que foi o projeto "Bota a baixo" no Rio de Janeiro?

REESTRUTURAÇÃO DO RIO DE JANEIRO....consequências para arquitetura nacional.


A cidade do Rio de Janeiro tinha o principal porto de exportação e importação do país e o terceiro porto em importância no continente americano, depois de Nova York e Buenos Aires. Mais que isso, como capital da república ela era a vitrine do país. Num momento de intensa demanda de capitais, técnicos e imigrantes europeus, a cidade deveria operar como um atrativo para os estrangeiros. Mas ao contrário, ela era acometida por uma serie de endemias, que assolavam e vitimavam sua população, e eram ainda mais vorazes pra com os estrangeiros, os quais não dispunham dos anticorpos longamente desenvolvidos pela população local. Por isso a cidade tinha, desde o início do século XIX, a indesejável reputação de “tumulo do estrangeiro”.
As autoridades conceberam um plano em três dimensões para enfrentar todos esses problemas. Executar simultaneamente a modernização do porto, o saneamento da cidade e a reforma do porto. A reforma urbana coube ao engenheiro urbanista Pereira Passos, que havia acompanhado a reforma urbana de Paris sob o comando do Barão de Haussmann. A regeneração se completou no fim de 1904. Seu marco foi a inauguração da Avenida Central, atual Avenida Rio Branco, eixo do novo projeto urbanístico da cidade, contemplada com um concurso de fachadas que a cercou de um décor arquitetônico Art Noveau, em mármore e cristal, combinando com elegantes lampiões da moderna iluminação elétrica e as luzes das vitrines das lojas de artigos finos importados. As revistas mundanas e os colunistas sociais da grande imprensa incitavam a população afluente para o desfile de modas na grande passarela da avenida, os rapazes no rigor dos trajes ingleses, as damas exibindo as últimas extravagâncias dos tecidos, cortes e chapéus franceses.
A atmosfera cosmopolita desceu sobre a cidade renovada era tal que, as vésperas da Primeira Guerra Mundial, as pessoas ao se cruzarem no grande bulevar não se cumprimentavam mais à brasileira, mas repetiam uns aos outros: “Vive La France!”.
No afã do esforço modernizador, as novas elites se empenhavam em reduzir a complexa realidade social brasileira, singularizada pelas mazelas herdadas do colonialismo e da escravidão, ao ajustamento em conformidade com padrões abstratos de gestão social hauridos de modelos europeus ou norte-americanos.

Jürgen Habermas descreveu com muita clareza como se operou, nas sociedades européias ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX a gênese simultânea do grande publico dos salões, dos teatros e da imprensa, por um lado e, pelo outro, o processo de privatização como uma emancipação psicológica da consciência burguesa, derivada da progressiva autonomia dos indivíduos no mercado capitalista e dos cidadãos na ordem política representativa. Ambos esses desenvolvimentos tem, portanto, uma mesma e inseparável raiz histórica, em razão da qual só poderão ser interpretados em suas relações recíprocas: “assim como a privacidade de um se funda na dimensão pública do outro, e a subjetividade do individuo privado se refere desde o inicio à esfera pública”.
 Segundo o autor, duas esferas coexistem na sociedade: o sistema e o mundo da vida. O sistema refere-se à 'reprodução material', regida pela lógica instrumental (adequação de meios a fins), incorporada nas relações hierárquicas (poder político) e de intercâmbio (economia). O mundo da vida é a esfera de 'reprodução simbólica', da linguagem, das redes de significados que compõem determinada visão de mundo, sejam eles referentes aos fatos objetivos, às normas sociais ou aos conteúdos subjetivos.

A intensificação dos contatos e das trocas internacionais promovida pela instauração do regime republicano naturalmente acelerou esse curso de transformações históricas. Na dinâmica da nova ordem, tanto ampliou-se a construção de uma esfera pública, reforçada pela expansão crescente da imprensa e das oportunidades de convívio cultural, quanto se agudizaram os sentidos e valores associados ao desfrute de experiências de privacidade. Esse, contudo, é o panorama ideal, na medida em que as condições históricas do país tornam tanto a participação no contexto do espaço público, privilégio de poucos.

A estabilização brasileira assinala uma sincronia com a ordem internacional. O enriquecimento baseado no crescimento explosivo dos negócios formou o pano de fundo do que se tornou conhecido como “belos tempos”.

Pereira Passos foi nomeado engenheiro do Ministério do Império em 1874, cabendo ao mesmo acompanhar todas as obras do governo imperial. Integrou a comissão que iria apresentar o plano geral de reformulação urbana da capital, incluindo o alargamento de ruas, construção de grandes avenidas, canalizações de rios entre outras medidas urbanas e sanitárias. O levantamento realizado de 1875 a 1876 seria a base do futuro plano diretor da cidade, posto em prática na administração de Passos como prefeito.

O POSITIVISMO COMO FUNDAMENTO DA CRIAÇÃO DE UMA NOVA ARQUITETURA:

O estado positivista é o termo fixo e definitivo em que o espírito humano descansa e encontra a ciência. As sociedades evoluem segundo essa lei e os indivíduos em outro plano, também realizam a mesma evolução.
O positivismo não aceita as classes sociais com o significado geralmente empregado na atualidade. Aceita sim que toda a sociedade desde a mais primitiva, há dirigentes e dirigidos. Os dirigentes devem sempre ser os mais capazes, isto é, aqueles que influem na educação e na cultura da espécie humana: são os sacerdotes, os filósofos, os cientistas, os jornalistas, os professores..., ou melhor, os teóricos que modificam o pensamento dos indivíduos através de sua pregação e de sua conduta moral.
Embasado na concepção biológica da sociologia, Augusto Comte entende a sociedade como um organismo cujas partes são heterogêneas, mas solidarias, pois se orientam para a conservação do conjunto. O progresso da sociedade é caracterizado, assim pela incessante especialização das funções, como todo o desenvolvimento orgânico, para maior aperfeiçoamento na evolução dos órgãos particulares .
O Positivismo, “como regime definitivo da razão humana frente à ação dissolvente da metafísica” surgiu do progressismo, baseado no desenvolvimento cientifico que dominou todo o século XIX, com o objetivo de aproveitar as virtudes do progresso, ou da evolução progressiva, pela compreensão racional e cientifica do problema da ordem determinando os elementos fundamentais de toda sociedade humana.
A política positiva não reconhece nenhum direito além do de cumprir o dever, e assim, nega categoricamente a própria existência do direito como tal. Ele entende que o positivismo não admite senão deveres para com todos; pois que seu ponto de vista, sempre social, não pode comportar nenhuma noção de direito, constantemente fundada na individualidade. O homem como individualidade não existe, portanto, na sociedade cientifica, senão como membro de outros grupos, desde o familiar – unidade básica por excelência até o político.

Também não existe lugar para liberdade de consciência, a consciência para Comte, não determina sozinha o modo de existência prática, como não bastam às condições materiais da vida para definir a consciência. E a própria soberania popular é um termo vazio de sentido em sua política positiva, onde a ditadura se exercita num despotismo espiritual e temporal, pois adota a principio da força como fundamento de governo.
No que tange ao processo de desenvolvimento da arquitetura eclética no Brasil, podemos dizer que ela é a manifestação construtiva de um segmento social representado por uma elite dominante, que através das idéias do positivismo procurava marcar de maneira definitiva o seu papel de superioridade diante de uma grande maioria populacional existente até então no país. A diferenciação marcante entre o estilo de morar de ricos e pobres deixava clara a divisão entre aqueles que deveriam tomar as rédeas do poder no estado e aqueles que deveriam se submeter aos ditames dessa mesma elite. A separação entre o publico e o privado ficou marcado de maneira indelével como o ocorrido no projeto “Bota a Baixo” do prefeito Pereira Passos na cidade do Rio de Janeiro em 1904. Era o momento oportuno para as elites consolidarem o poder republicano em oposição a aqueles que ainda viam no império uma maneira mais esclarecida de administrar o Brasil.

segunda-feira, 9 de março de 2015

JORNADA DE FOTOGRAFIA: Palestra....2014.

        Este evento foi realizado em agosto de 2014 e visava principalmente demonstrar as possibilidades da fotografia como meio de esclarecimento e conscientização sobre a importância da manutenção do patrimônio histórico edificado, basicamente falamos na possibilidade de registro fotográfico como denúncia as violações dos prédios históricos da cidade do Rio Grande ocasionadas pelo desconhecimento da importância em preservar os prédios mais que centenários da Cidade Noiva do Mar....foram registradas visualmente no evento as violações, depredações e descaracterizações desses prédios e principalmente abordamos que esses abusos são causados pela falta de conscientização e de uma de fiscalização efetiva dos gestores públicos a fim de e evitar a desagregação do valor patrimonial local.

O que é o projeto "Visões do Rio Grande":

Nome do autor: Jefferson José Alves Dutra
Titulação: Bacharel em História pela Furg
Email de contato: jjosadutra@bol.com.br

Palavras chave:
— Ciclos econômicos
— estilos arquitetônicos
— fotografia
Linha de pesquisa em história da arquitetura.

Resumo:

O presente trabalho foi realizado como requisito para conclusão do curso de história bacharelado que teve sua defesa nos finais de 2011 e que tinha como objetivo mapear os prédios históricos da cidade do Rio Grande, principalmente os de estilo eclético, através de um trabalho fotográfico que durou aproximadamente três anos e que teve como abrangência geográfica o centro histórico da cidade acima citada. Paralelamente ao trabalho de campo foi realizado um trabalho de pesquisa histórica em fontes primárias (jornais, revistas e fotos antigas) e em fonte bibliográfica buscando autores nacionais e internacionais com o objetivo de compreender as nuances e especificidades no país e no mundo em que se originaram as arquiteturas estudadas e fotografadas. O objetivo primordial com a pesquisa bibliografia era tentar contextualizar o surgimento dessas arquiteturas no cenário econômico, cultural e social onde cada arquitetura surgiu principalmente na cidade Noiva do Mar.
Tivemos da mesma forma a colaboração do arquiteto Oscar Décio Carneiro que nos deu valiosas informações e mais que oportunos comentários sobre o nosso trabalho dentro dos aspectos da arquitetura histórica do centro histórico municipal. Ficou muito claro desde o início desta garimpagem de informações bibliográficas que no município do Rio Grande e também em nosso Estado, foi a influencia da imigração europeia a muito responsável pelas edificações construídas principalmente nos finais do século XIX e início do século XX principalmente nos estilos Neoclássico e Eclético, desta forma estes como os outros estilos ficaram totalmente contextualizados dentro de sua perspectiva histórica e comprovadamente não sendo resultado de uma atitude esporádica de construcionismo e sim como inserção no cenário histórico local.

Introdução:

Este trabalho teve sua gênese na leitura da obra de Nestor Goulart dos Reis filho – Quadro da Arquitetura no Brasil, que é um dos precursores do estudo da arquitetura no Brasil, tendo seu trabalho desenvolvido principalmente em São Paulo, mas que em moldes gerais tinha uma arquitetura muito semelhante a arquitetura desenvolvida no Rio Grande do Sul. Basicamente procuramos com o trabalho demonstrar através da pesquisa histórica de vários autores em obras publicadas e em jornais e revistas, também como em fotografias antigas e em fotos atuais que este autor realizou que é na valorização do patrimônio histórico edificado que residem as perspectivas futuras para um crescimento turístico, artístico, cultural e econômico em nossa cidade. A fotografia neste contexto foi deveras importante num sentido de materializar e documentar registros visuais de nossa arquitetura histórica local e de criar uma base de dados realista sobre as atuais condições do nosso patrimônio edificado. Procuramos de maneira sistemática levantar a história do surgimento dos estilos nos quatro níveis encontrados: mundial, nacional, estadual e no município que era o foco central do desenvolvimento deste trabalho visto que era propósito primordial, levantar os prédios ainda existentes, observar suas condições e contextualizá-los em sua história com o fim de saber sobre sua real importância para historia urbana do Rio Grande e a separação social neles percebida em um contexto em que a burguesia tentava ressaltar sua relevância no cenário mundial. O trabalho de campo teve a duração de três anos e se desenvolveu basicamente durante o desenvolvimento do curso de graduação. Embora de maneira descontinuada este trabalho circunscreveu um universo médio de 300 prédios que foram considerados mais significativos para os resultados a que esperávamos chegar.

Materiais e métodos:

Os materiais utilizados para pesquisa foram realizados junto a bibliotecas locais como a da Fundação Universidade do Rio Grande, Biblioteca Rio-grandense e Biblioteca da Escola de Belas Artes, basicamente foi feito pesquisa em fontes bibliográficas nesses locais e em jornais na Biblioteca Rio-grandense e no Centro de Documentação Histórica da Furg onde colhemos pesquisas anteriores sobre o tema, jornais, revistas e fotos, principalmente as fotos da biblioteca Rio-grandense. Também foi utilizado material fotográfico de sites como o Papareia, Rio Grande em Fotos e do acervo pessoal de amigos e colegas da Furg, além de professores que agora não é possível listar todos sob o risco de algum esquecermos.
Para o trabalho de campo fotográfico usamos máquina e uma planilha para registrar o tipo de casa fotografado, a localização e a data de construção quando esta existia no frontão das fachadas, além do estado geral destas construções.

Resultados e discussões:

Com este trabalho foi possível a nós perceber algumas questões importantes: a primeira delas foi a carência de fontes bibliográficas locais e a pouca quantidade de fontes no país e o Estado do Rio Grande do Sul, a que se destacar no aspecto regional a obra de Gunter Weimer que por sua especialidade no assunto em muito contribuiu para o desenvolvimento de um trabalho que parecia bastante complexo no seu contexto original, mas que acabou se desdobrando de maneira satisfatória ao seu final. A solução para este problema foi em parte recorrer aos trabalhos publicados na internet, principalmente no Google Acadêmico que é uma fonte segura de pesquisa para trabalhos de graduação visto que os temas lá contidos são publicados em instituições de ensino superior e assinados por seus autores.
Pela pesquisa histórica feita nos livros, jornais, revistas, internet, fotos antigas podemos levar a efeito a percepção de que as arquiteturas desenvolvidas na Cidade do Rio Grande são, antes de mais nada, o resultado de uma conjuntura histórica em que estão envolvidos, ou seja, em cada momento histórico estão envolvidos, principalmente no desenrolar do século XIX e XX.
Essas arquiteturas estão intimamente relacionadas com os contextos econômicos, sociais e culturais de suas épocas e apresentamos provas disso, quando, por exemplo, relacionamos o crescimento da arquitetura eclética com o surgimento da industrialização dispersa em Rio Grande e na Cidade de São Paulo no fim do século XIX. Em Rio Grande esse ciclo industrial fica bem marcado com o surgimento da empresa Rheingantz.
Outro importante achado nesta pesquisa foi o uso e utilidade da fotografia, fazendo registro das imagens em arquivo para em uma etapa posterior avaliar os estilos e as condições gerais dos prédios analisados.
Pelo número de estruturas registradas e analisadas no trabalho de campo pudemos perceber a enorme potencialidade turística que pode ser explorada no centro histórico da Cidade do Rio Grande, mas que infelizmente está sendo subestimado ou mesmo negligenciado por interesses escusos ou especulação imobiliária que visa por fim a essas estruturas mais que centenárias. Talvez e nesse talvez agirmos de maneira especulativa, a nossa tradição portuária não nos de condições de perceber o potencial valor turístico das estruturas edificadas.

Conclusões:

Toda arquitetura é resultado de seu tempo e das influências a que está submetida, podemos observar através da pesquisa histórica que na Cidade do Rio Grande nossos ciclos econômicos em muito contribuíram para materialização dessas arquiteturas pelo acumulo de capital gerado pela industrialização, e sob o ponto de vista cultural europeu no que se refere a concepção desses projetos. Fica mais do que provado que precisamos fazer um questionamento sobre a atual situação dos prédios históricos locais e perceber que é na valorização dessas estruturas que potencializaremos mais um mercado para geração de recursos: o turismo local.
Social e culturalmente precisamos valorizar estas estruturas no sentido de dar uma identidade e uma referencia ao nosso povo objetivando com isso termos um padrão de referência para sabermos o quanto estamos evoluídos ou em quanto precisamos ainda evoluir em relação as gerações passadas.
Do ponto de vista técnico podemos afirmar que a maioria das construções fotografadas é em seu estado razoável, embora algumas muito descaracterizadas em alguns elementos de época, o que na verdade ainda falta na cidade é uma consciência coletiva no sentido de preservar o total do patrimônio histórico edificado.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALVES, Francisco das Neves. A Imprensa na Cidade do Rio Grande (Um Catálogo Histórico). Rio Grande: Fundação Universidade do Rio Grande, 2005.
BERTUSSI, Paulo Iroquez e WEIMER, Günter. Arquitetura no Rio Grande. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983.
BITTENCOURT, Ézio da Rocha. Da Rua ao Teatro – os prazeres de uma cidade/sociabilidades e cultura no Brasil meridional. Rio Grande: Editora da Furg, 2005.
BIBLOS. Revista do Departamento de Biblioteconomia e História – volume 20. Rio Grande: Editora da Furg, 2006.
BURDEM, Ernest. Dicionário Ilustrado de Arquitetura. Tradução de Alexandre Ferreira da silva. Porto Alegre: Editora Bookman, 2006.
CARVALHO, Benjamin de A. Arquitetura no Tempo e no Espaço. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1968.
CZAJKOWSKI, Jorge. Guia da Arquitetura Eclética no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Centro de Arquitetura e Urbanismo, 2000.
DIÁRIO DO RIO GRANDE. Rio Grande, n. 13426, 09 de janeiro de 1898.
ENSSLIN, Lidiane Correia. Ecletismo Arquitetônico em Jaguarão, Um estudo. Porto Alegre: Programa de Pós Graduação em Arquitetura (Propar), dezembro de 2005.
FILHO, Nestor Goulart dos Reis. Quadro da Arquitetura no Brasil. São Paulo, 2011.
DAS NEVES, Francisco Alves e TORRES, Luiz Henrique. Visões do Rio Grande. Rio Grande: Furg, 1995.
HEINZ, Wagner Philip Portella. A presença dos imigrantes alemães e sua contribuição para a economia e a cultura na cidade do Rio Grande (1824/1950). Pelotas: Editora Universitária/Ufpel, 2010.
JUNIOR, João Ribeiro. O que é positivismo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.

MAESTRI, Mário. O Escravo no Rio Grande do Sul, trabalho, resistência e sociedade. Porto Alegre: Urfgs Editora, terceira edição, 1993.
MARTINS, Solismar Fraga. Cidade do Rio Grande (Industrialização e Urbanidade 1873/1990). Rio Grande: Editora da Furg, 2006.
NOVAES, Fernando e SEVCENKO Nicolau. História da vida privada no Brasil/ volume III. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
PAULITSCH, Vivian S. Rheingantz: Uma vila operária em Rio Grande. Rio Grande: 
Editora da Furg, 2008.
PIMENTEL, Fortunato. Aspectos gerais do município do Rio Grande. Porto Alegre: 1944.
PREFEITURA MUNICIPAL DO RIO GRANDE. Inventário de Bens de Interesse Cultural. Disponível em: http://www.riogrande.rs.gov.br/pagina/index.php/inventario-de-bens-culturais. Acesso em 2011.
SHILING, Voltaire. Culturas em Movimento - A presença alemã no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Riocell, Timm e Timm Editora, 1992.
THIESEN, Beatriz Walladão. Fábrica, Identidade e Paisagem Urbana: Arqueologia da Bopp e Irmãos (1906-1924). Porto Alegre: PUC RS, fevereiro de 2005.

OUTRAS FONTES DE PESQUISA:

Entrevista com o arquiteto Oscar Décio Carneiro em 09 de novembro de 2011, as 15 horas.

Participantes (ouvintes) da Primeira Jornada de Fotografia da Fototeca Municipal do Rio Grande - 19/08/2014


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

CARACTERÍSTICAS QUE FAZEM DA IGREJA DO CARMO UMA CONSTRUÇÃO NEOGÓTICA:

Uma construção para ser considerada de um determinado estilo, precisa ter as principais características desse estilo, no caso o neogótico. Como sabemos o neogótico é um retorno a estética gótica medieval, que se instala no Brasil com uma lentidão e com quase cem anos de diferença em relação ao racionalismo clássico, o que de fato é expresso nas construções, pois, o estilo em discussão representa na verticalidade do sentimento religioso, pois acreditava-se que quanto mais alto o templo mais próximo de Deus estariam, ou seja, a elevação da espiritualidade. Por esta razão até os artistas envolvidos colocavam todo seu esforço, uma vez que modelariam a “Casa de Deus” na terra.
Um traço marcante na paisagem rio-grandina são as torres da igreja, as quais estão presentes a todo instante, registrando todos os passos dos fiéis, como se fossem os olhos de Deus. A lição das torres pontuadas e altas e das flechas era a mais eficiente porque o edifício era dominador e sempre presente na comunidade (Cheney 1995. p 235). O idioma básico são os arcos ogivais, abóbodas ogivais e abóbodas nervuradas que, nitidamente notamos na Igreja do Carmo e que contribuem para formar o estilo, assim como as aberturas em forma de arco lanceolado decoradas com vitrais, tendo uma rosácea na parte superior, ainda na abside esta localizado o altar-mor, duas aberturas de madeira com a parte superior de vitrais e com a imagem do Coração de Maria, essas portas recebem destaque devido a molduras de anjos e outra lisa.
Todas as igrejas góticas tinham suas fachadas divididas em seis zonas: três verticais e três horizontais. Ao observarmos a fachada externa do Templo Carmelita podemos notar que existe essa divisão a qual possui a torre lateral, rosácea, torre lateral no sentido vertical, enquanto que no sentido horizontal temos as três portas, galeria e rosácea com nichos e estátuas de santos e as torres. Algumas destas estátuas em forma de arcanjo trazem na mão o escapulário com os símbolos da ordem. Na fachada lateral do templo encontra-se o brasão da Ordem Carmelita e logo acima a imagem da Padroeira da Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo. Como todas as igrejas pertencentes a este estilo arquitetônico a igreja tem no ponto mais alto, sem serem as torres, a imagem da Santa Padroeira, geralmente na entrada principal do prédio, pois, desta forma a santa cuidaria de seus fiéis e abençoaria a cidade, lembrando sua vigilância para com seus filhos.

Passando para a parte interna do templo, nas paredes nas naves laterais estão fixadas as cenas pintadas na passagem da Via Sacra, constituída em mármore com a forma de uma igreja, apresentando duas torres laterais e uma central. Ainda encontramos na parte inferior das paredes uma decoração imitando mármore, em tons terrosos e figuras de arcos. Na parte superior da nave esquerda e direita existe um painel com pintura de cenas bíblicas. Na parte superior destinada ao coro vemos a rosácea da entrada principal, com vitrais coloridos e os arcos também, merecendo uma moldura de cimento trabalhado. Não podemos esquecer do órgão característico das igrejas medievais, utilizado nas apresentações do coro durante a cerimônia religiosa. A coluna que sustenta o coro e serve de divisa para a nave lateral e possui quatro nichos com imagens de santos. Estando com o olhar para o alto (teto) percebe-se a rosácea principal na abóboda central da igreja, no transepto, precedendo a abside, onde localiza-se o altar-mor, apresentando oito pontas e toda rendilhada, demonstrando a leveza dada ao material pesado.


As igrejas medievais góticas, geralmente tinham a forma de cruz latina, sendo que o transepto tornara-se quase imperceptível, o mesmo ocorre com o monumento rio-grandino. Ao passarmos o transepto chegaremos as absidíolas laterais, a nave lateral da direita de quem entra na igreja é composta por bancos de madeira, um confessionário de madeira trabalhada contendo o brasão da Ordem do Carmo. Seu piso é todo de tijoleta, formando figuras geométricas abstratas, o mesmo ocorre na nave lateral esquerda, diferenciada por alguns objetos. A absidíola direita temos o altar todo em mármore, o qual foi confeccionado em Porto Alegre e nele temos as imagens do Sagrado Coração de Jesus, no alto Menino Jesus de Praga, ladeado por Santa Rita, Nossa Senhora Aparecida e Santa Luzia. Na nave lateral esquerda temos uma Pia Batismal em mármore, que está no início da nave, em frente a uma linda pintura do batismo de Jesus, seguindo encontramos o mesmo confessionário, bancos e ao fim o altar igual à nave direita modificando as imagens: no alto Santa Teresinha do Menino Jesus, abaixo Nossa Senhora das Graças, ladeada por São Vicente de Paula, São Pedro o padroeiro da cidade e Santo Antônio. Na parte inferior do altar esta a imagem de Santa Teresinha no túmulo. O Piso da absidíola e composto por tijoletas formando uma rosácea.


A nave principal é ampla, existindo duas fileiras de bancos de madeira trabalhada, um oratório em madeira com um pináculo imitando a torre da igreja. Ao chegarmos no transepto, podemos nos encantar com a magnificência do altar-mor localizado na abside separada do transepto por alguns degraus e uma grade de mármore como se fosse uma porteira. Como podemos verificar in loco, a beleza do altar, no nicho central a imagem da Padroeira da Igreja, Nossa Senhora do Monte do Carmo, acima deste, um crucifixo de dois metros de altura, doado pela senhora Lya Py da Cunha, ao lado de Nossa Senhora do Carmo estão São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila. No altar propriamente dito temos São José (esculpido em madeira com olhos de vidro, uma escultura típica barroca), Profeta Elias, Santa Ana, São Luiz Gonzaga, Arcanjos e Santa Cecília. O altar na parte inferior possui um alto-relevo em bronze. Na lateral direita da abside está o que os fiéis chamam de luz de Jesus, o qual demonstra que Jesus está vivo no sacrário.

Cabe destacar o escultor rio-grandino Serafim José Ribeiro, o santeiro que esculpiu a imagem do Senhor Morto em um período de seis meses. A imagem tem oito palmos e os braços se movem de forma a prestar-se a cerimonia do descimento da cruz. Já a imagem da padroeira da igreja foi feita na Argentina e colocada no templo no ano de 1939 pelo Frei Caio, enquanto que a imagem anterior encontra-se junto com Nosso Senhor dos Passos na entrada da igreja, sendo transformada em Nossa Senhora das Dores pelo Frei Hipólito do Santíssimo Sacramento.

Todas essas características tornam a Igreja do Carmo um templo Neogótico, patrimônio da população e que ganhou beleza na imponência de um prédio destinado a elevação do espírito e por consequência elevou o orgulho da Cidade do Rio Grande.

SANTOS TEIXEIRA, Margareth Cristiane. Matriz de Nossa senhora do Carmo, ruptura na estética colonial portuguesa da Cidade do Rio Grande. Rio Grande-Furg, dez 2011.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

IGREJA DE NOSSA SENHORA DO CARMO: Um histórico


A Igreja do Carmo é a melhor representante do estilo Neogótico em Rio Grande, a qual nos mostra a ruptura da estética colonial portuguesa e a religiosidade de um povo que expressa através do monumental, mas antes desse magnífico templo a Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo possuía uma igreja muito simples na cidade marítima, a então Vila do Rio Grande do Sul.

 Por decreto de 26 de fevereiro de 1777, do então principal e geral do Convento do Carmo do Rio de Janeiro, Frei Antônio das Chagas é autorizada a criação da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, sendo comissário, o reverendíssimo Padre Luiz de Medeiros Corrêa que delega seus poderes ao Vigário da Vara e Freguesia na Vila do Rio Grande, Padre José Gomes de Farias. Em 1780 é bento um altar, na matriz de São Pedro. Como a devoção a Nossa Senhora do Carmo estava crescendo, a Ordem Terceira do Carmo procura uma sede própria, afastando-se do local de origem, edificando a sua igreja.


Em 1800 dá-se início a construção da igreja, sendo erguida no centro da Rua Dezesseis, tinha a frente para a Rua da Praia (depois Dom Pedro II e hoje Marechal Floriano), o estilo arquitetônico baseia-se no românico sofrendo interferência do estilo colonial e manuelino.
A antiga Igreja do Carmo era composta de uma nave única espaçosa, dois consistórios, sala capitular, outras dependências, torres com sinos portugueses e um cemitério que ficava nos fundos. Em 6 de novembro de 1809, o Padre Francisco Ignácio da Silveira benzia solenemente o novo Templo da Ordem Terceira do Carmo.

Infelizmente estando a igreja mal localizada, no centro de uma rua, o governo do município tenta desapropriar e demolir a igreja para abertura da Rua Dezesseis (Benjamim Constant), devido ao crescimento da cidade. A demolição da igreja ocorre em 1928, segundo proposta do Marechal Francisco José Soares de Andréa nas “Discrições das Emendas ou Adições” feitas ao Arruamento da Vila do Rio Grande de São Pedro.



Devido ao melhoramento da rua, é então posto a baixo o prédio da Ordem do Carmo, já que a mesma parecia um armazém com alguns altares, sem luxo ou objeto de valor. Mas para que a demolição ocorresse o governo tratou a desapropriação junto a Venerável Cúria Diocesana de Pelotas, sendo oferecido um terreno mais amplo em algum lugar da mesma rua ou em outro lugar da cidade, proposta que foi aceita pela Cúria Diocesana. Após acerto com a Cúria os Carmelitas transferiram a igreja para uma casa particular na Rua General Bacelar, onde normalmente o culto religioso acontecia, durando até 1929, servindo de igreja provisória.

No ano de 1929 é lançada a pedra fundamental da nova Casa de Deus, que após a aprovação do projeto do Reverendíssimo Frei Mariano de São José, dá-se início as obras do monumental prédio em estilo Neogótico, a qual representará o progresso, a arte e a devoção de um povo. Com a intensificação das obras foi possível concluir a igreja, mesmo com a transformação do cenário político nacional, com o golpe de Getúlio Vargas, a nova constituição do Estado Novo, não influenciaram nas obras, visto que, Rio grande ainda não tinha se posicionado em relação ao assunto, vindo mais tarde a apoiar Getúlio Vargas. O governo municipal era de responsabilidade do prefeito Doutor Antônio Rocha de Meirelles leite, o qual permanece à frente da administração da Prefeitura Municipal por dez anos.

A construção das torres teve que ser interrompida, uma vez que a situação mundial era de terror pois estávamos na Segunda Guerra Mundial, onde os recursos estavam todos concentrados para a guerra, mesmo o Brasil não participando no primeiro momento do conflito, portando seria necessário manter a obra estagnada o que ficou por muito tempo, sendo construída em 1950. O templo Neogótico foi inaugurado solenemente e oficialmente pelo Bispo Diocesano Sua Excelência Reverendíssima Senhor Dom Joaquim Ferreira de Mello, Sua Excelência Reverendíssima Senhor Dom Antônio Reis, egrégio Bispo de Santa Maria no dia 22 de abril de 1938, havendo uma cerimônia com convidados civis, militares e religiosos e uma festa coroando a benção da mais nova igreja.




IGREJA DO CARMO 2010: Vitral da fachada e escada que conduz a torre dos sinos.


IGREJA DO CARMO: 2010....Sinos que não "dobram".


sábado, 14 de fevereiro de 2015

SOBRADO DOS AZULEJOS:

Histórico da construção:

O “Sobrado dos Azulejos” é um dos prédios tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE) e listado no Patrimônio Histórico Municipal, na cidade do Rio Grande, iniciada sua construção em 1862, foi concluída em 1864, dois anos depois portanto. Em estilo Neoclássico, esta localizado na esquina das ruas Marechal Floriano Peixoto e Francisco Marques, próximo ao porto velho, uma das áreas mais antigas da cidade.

Foi construído para servir de residência ao comerciante Antônio Bonone Martins Vianna. O andar inferior era reservado para o comércio. No final do século XIX, o “London and Brazilian Bank" comprou o prédio para abrir uma filial, permanecendo até a década de 20 do século passado e faliu devido à crise econômica de 1929, quando foi vendido ao comerciante e empresário Luis Loréa em 1938.

Nos últimos anos antes do abandono, o Sobrado serviu como bar na parte térrea e casa de cômodos no andar superior. O sobrado sofreu vários tipos de depredação, tais como: vandalismo, roubo, pichação, intrusão para moradia e outros.  Antes de ser recuperado o Sobrado apresentava um estado deplorável, lixo e vegetação acumularam-se em seu interior e nas platibandas. Os azulejos que o revestiam sofreram um processo de decomposição do esmalte, descascando o mesmo até sobrar apenas a faiança. Suas sacadas estavam enferrujadas, as aberturas apodrecidas e era preciso utilizar madeira nas portas e janelas para o prédio não ser ocupado.

Segundo Symanski (1998), os sobrados do século XIX eram construídos com o objetivo de representação social, demarcando limites entre o público e o privado. O sobrado do Brasil oitocentista, além de possuir valor estético e financeiro, também possuía valor moral e social. A imposição da opulência através da construção esta ligada à unidade domiciliar (família), que desempenha função central e delimitadora entro o público e o privado (lima, 1989). espalharam-se pelas cidades brasileiras, bairros abastados e opulentos e com eles os casarios, solares e sobrados, com a campanha de urbanização do final do século XIX, é neste período que se encaixa a formação da burguesia riograndina.

O século XIX é um período de inovação, não só para a ciência mas também técnico industrial. As letras, a filosofia, a arte, a música e outros elementos europeus passam a ser incorporados no modo de vida riograndino, trazendo consigo as características importadas da Inglaterra e França. Na segunda metade deste século, no Brasil, ocorre à substituição da mão-de-obra escrava pela imigrante, transição de Império para República e é cenário de diversas revoltas. A cidade do Rio Grande passa por profundas modificações em âmbito social e estrutural urbano.

Já no século XX, ocorre o processo de reestruturação do porto velho (próximo ao Sobrado) que o transfere para outro local, próximo a entrada e saída de navios na Barra de Rio Grande. O local no centro da cidade onde se localizava o antigo porto sofre os resultados da transferência, causando um declínio econômico daquela micro-região. Com a mudança do porto para outro lugar, ampliam-se a abertura de cortiços, meretrícios e bares. Em meados do mesmo século a zona compreendida entre as ruas Riachuelo, Silva Paes e Barroso é conhecida como a zona de meretrício, violência e perturbação social. Podemos associar este fenômeno com o mesmo período de abandono e degradação do Sobrado, que sofreu diretamente o impacto das transformações econômicas ocasionadas pela transferência portuária.

Entre as décadas de 60 e 80 do século XX, o Sobrado passou a abrigar um bar noturno, o bar utilizava o espaço térreo do Sobrado, enquanto os cômodos ficavam no andar superior. Em abril de 1998, a Associação Pró-Preservação do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (APHAC), de Rio Grande, adquiriu o prédio com verba doada pelo Grupo Ipiranga, o qual promoveu sua restauração.


Referências: Pestana, Marlon. Contribuição para o registro arqueológico no Sobrado dos Azulejos. Rio Grande, 2003.




sábado, 7 de fevereiro de 2015

HISTORICO DA PRAÇA TAMANDARÉ:

Os mapas do século XVIII indicam o espaço hoje ocupado pela Praça Tamandaré como um anecúmeno formado por cômoros de areia. A continuidade da Rua General Bacelar até a atual 24 de Maio teve uma importância crescente pelo fato de concentrar-se neste local grande parte do contingente militar e a Casa do Governador.

O terreno em frente aos estabelecimentos militares e de administração foi denominado de Praça dos Quartéis, devido à proximidade de edificações militares chamada popularmente de geribanda ou giribanda. Segundo Antenor Monteiro, esta palavra poderia ter origem no acesso de escravos e populares para esta área arenosa constituída por algumas lagoas, com objetivo de coletarem água potável para seus proprietários, encherem pipas para venda pública do líquido ou para lavarem roupas. Monteiro entende que o “ajuntamento de pessoas neste local poderia trazer disputas, sarabandas (descomposturas) e até mesmo lutas corporais, que poderiam fazer daquele local uma giribanda”. O nome atual de Praça Tamandaré foi uma homenagem da Câmara Municipal do Rio Grande em sessão realizada no dia 20 de abril de 1865 ao Almirante Joaquim Marques Lisboa. Sua atuação na Guerra do Paraguai o fez patrono da Marinha do Brasil.

Em 1820, visitando a então Vila do Rio Grande, Auguste Saint-Hilaire (Viagem ao Rio Grande do Sul) escreveu: “como já tenho dito, não há aqui nascentes, nem fontes de água doce, mas atrás da cidade, entre os montículos de areia (em lugar denominado Geribanda), cavaram-se poços, onde a pequena profundidade se encontra muito boa água. Estima-se que a população do Rio Grande em cerca de dois mil habitantes entre os quais há muito europeus e apenas um pequeno número de mulatos”.
No mapa urbano de 1829, a área da praça aparece descrita como um “terreno arenoso com combros e por isso incapaz de se povoar presentemente”.

A expansão urbana foi incrementando a valorização daquele vasto terreno situado próximo ao centro da Vila do Rio Grande de São Pedro (1751), localidade que desde 1835 passou a condição administrativa de Cidade do Rio Grande.

Antes de tornar-se um espaço público, ocorreram várias disputas pela ocupação da área para fins particulares, religiosos e industriais. No jornal Diário do Rio Grande de 24 de dezembro de 1850 foi feita uma denúncia sobre a ocupação da área por “alguns cidadãos ilustres da cidade” que supostamente teriam recebido terrenos no local a partir da autorização da Câmara de Vereadores. Como o consumo de água potável ficaria comprometido com a ocupação, investigou-se a legalidade da atuação e descobriu-se que a câmara não havia autorizado oficialmente a distribuição de terrenos. Rechaçando desta forma a pretensão dos “ilustres” que já haviam cercado seus terrenos.

Coube a Câmara Municipal participar do embate pela disputada ocupação daquele amplo terreno arenoso e alagadiço. A definição deste espaço como público e não privado definiu-se a partir de debates e requerimentos negados ou aprovados. A pressão de políticos, em 1887, para que fosse efetivada a construção de um novo templo serviu para ações no sentido de definição da área como espaço público, pois a câmara indeferiu o pedido e inciou o aterramento e o ajardinamento de uma parte do terreno. Em 1891, um novo pedido de construção de uma capela foi indeferido pelos vereadores.

Em documentos resgatados por Antenor Monteiro, uma nova tentativa, agora voltada à ação industrial, foi desfechada em 1893. Em um ofício encaminhado pelo Coronel Augusto de Carvalho, intendente municipal, à Câmara de Vereadores: “Cidadãos Conselheiros Municipais: o cidadão Giovanne Heusemberger & Cia., requerem a esta intendência por aforamento perpétuo uma parte ou duas quadras da Praça Tamandaré, limitadas pelas ruas General Neto, 24 de Maio e Conde de Porto Alegre, para estabelecer uma fábrica de tecidos, oferecendo a quantia de 5000$000 para melhoramentos materiais”. A concessão foi aprovada pela câmara com o voto contrário de um vereador, Carlos Rheingantz, uma vez que a empresa Giovanne Heusemberger era uma concorrente no ramo da indústria têxtil.

A praça foi preservada, pois o proprietário da indústria resolveu instalar-se noutro local. Também a indústria de Charutos Pook & Cia., tentou estabelecer-se na praça, porém, teve seu pedido negado pelo Conselho Municipal.

A área parcialmente alagada também deixou registros de mortes como foi relatado no jornal Diário do Rio Grande de 23 de julho de 1859, quando um soldado foi encontrado morto em seu interior. Em 1874, outro homem, embriagado, foi encontrado sem vida numa das lagoas, num periodo de chuvas fortes.

Um dos poços e o tanque para bebedouro dos animais foram construídos em 1848. A câmara no ano de 1862, mandou cercar a praça “por marcos e duas ordens decorrentes, para que os animais não embacem os melhoramentos que seriam arborizar e fazer um tapete de relva em vez de areias”.

No início da década de 1870 havia na praça cinco poços construídos com tijolos e cantaria e um bebedouro para animais e para consumo da população. Ainda em abril de 1870, a Presidência da Província ordenou a Diretoria da Fazenda que liberasse recursos para o aterramento da praça. O projeto de melhoramentos de 1876 propunha fazer uma canalização que concentrasse toda água acumulada na praça em um único lago central, cercado por árvores. Porém as dificuldades de percorrer a praça no período de chuvas, o que a tornava intransitável, mantinha a situação sem solução ainda no ano de 1878, apesar dos debates buscando soluções prosseguirem. Em 1876 a Companhia Hidráulica comprou na Inglaterra o chafariz situado na proximidade da Rua General Neto com Silva Paes. Em 1878 foram fechados os poços por exigência do contrato feito com a Companhia Hidráulica.

De acordo com Antenor Monteiro, em outubro de 1887, a Câmara “por intermédio da comissão, que para isso fora nomeada, contratou o Dr. Duprat, diretor da Companhia Estrada de Ferro, pra o transporte diário de 135 wagons (vagões) de areia para aterro da praça a razão de 11$500. no mesmo ano, sob o projeto de engenheiro da Câmara, foi iniciado o plano geral do embelezamento da praça. Em 1890 foram despejados 175 wagons de areia”. Em 13 de janeiro de 1890, foi ordenada a retirada e a venda do aramado da praça por este se encontrar em mau estado de conservação.

Fontana, um escritor rio-grandino do século XIX, destacava a Praça Municipal como “vasta praça e único passeio recreativo da cidade, é comumente denominada de Boulevard Rio-Grandense”, porém, “lamenta-se que não mereça mais atenção da edilidade. Já na Praça Tamandaré existiam seis fontes públicas para coleta de água e lavagem de roupas, erguendo-se no centro desta “uma modesta cruz ali colocada em 1842 pela missão jesuítica a estas plagas”. A praça já ostentava a denominação de Tamandaré, mas mantinha sua função ligada às fontes públicas ali existentes sem a perspectiva imediata de tornar-se uma praça voltada ao “passeio recreativo da população”.

Área almejada e que se valorizou com o desenvolvimento da cidade, a Praça Tamandaré começou a receber uma atenção mais destacada a partir de 1895, através de projetos de melhoramentos que se estenderam até o ano seguinte. O projeto previu a construção de chalé, plantação de mudas de árvores, ajardinamento, construção de lagos e ilhotas. Em 1896 nestes lagos faltava somente a colocação do revestimento de fundo composto por barro oriundo de Pelotas, portanto os lagos remontam a pelo menos o ano citado.

Na virada do século XX, a praça já tem um destaque estadual pelo espaço de lazer que passa a proporcionar à população e pela apresentação de bandas musicais como é o caso da Banda Rossini.

Ainda no início do século passado o papel de fornecer água potável foi mantido e a figura dos cata-ventos eram presentes na praça, tendo como objetivo, talvez, a remoção do excesso de água do lago em períodos chuvosos. Os primórdios desta instalação podem ser do final do século XIX, mas talvez remonte até meados do século XVIII, numa prática açoriana, pois um mapa de aproximadamente 1750 apresenta o desenho de um cata-vento em local próximo a atual Praça Tamandaré. O cata-vento que aparece nas antigas fotos da praça, localizado nas ruas General Neto com Luiz Loréa tinha como função a captação de água e o acionamento de um chafariz.