Patrimônio Histórico e Urbânidade em Rio Grande:

A cidade do Rio Grande por sua tradição histórica e por sua importância dentro do cenário ecônomico do Brasil sul meridional sempre foi uma região de confluência de interesses dos mais diversos povos e de tendências políticas ou ecônomicas. no decorrer destes ultimos duzentos e setenta e três anos a cidade se desenvolveu apesar de todas as dificuldades que enfrentou: problemas com imigração, conflito de fronteiras, dificuldades com a natureza, invasões espanholas e crises ecônomicas. superados esses problemas com muito sangue, suor e lágrimas, foi notável o desenvolvimento desta cidade, pois, muito fácil é observar o crescimento que se consubstanciou na forma de nossos prédios históricos e realizações culturais, entre elas podemos citar: a primeira biblioteca do RS, Câmara de Vereadores, industria textil, linha de bondes regular e refinaria de petróleo do país, entre outras.

Fica estabelecido que é na observação e valorização do nosso rico passado e nas nossas construções históricas que estão as soluções para os problemas de nossa cidade. Hoje nas grandes capitais da Europa o turismo histórico é uma realidade, pense nisso e vamos mudar a conjuntura....


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

CARACTERÍSTICAS QUE FAZEM DA IGREJA DO CARMO UMA CONSTRUÇÃO NEOGÓTICA:

Uma construção para ser considerada de um determinado estilo, precisa ter as principais características desse estilo, no caso o neogótico. Como sabemos o neogótico é um retorno a estética gótica medieval, que se instala no Brasil com uma lentidão e com quase cem anos de diferença em relação ao racionalismo clássico, o que de fato é expresso nas construções, pois, o estilo em discussão representa na verticalidade do sentimento religioso, pois acreditava-se que quanto mais alto o templo mais próximo de Deus estariam, ou seja, a elevação da espiritualidade. Por esta razão até os artistas envolvidos colocavam todo seu esforço, uma vez que modelariam a “Casa de Deus” na terra.
Um traço marcante na paisagem rio-grandina são as torres da igreja, as quais estão presentes a todo instante, registrando todos os passos dos fiéis, como se fossem os olhos de Deus. A lição das torres pontuadas e altas e das flechas era a mais eficiente porque o edifício era dominador e sempre presente na comunidade (Cheney 1995. p 235). O idioma básico são os arcos ogivais, abóbodas ogivais e abóbodas nervuradas que, nitidamente notamos na Igreja do Carmo e que contribuem para formar o estilo, assim como as aberturas em forma de arco lanceolado decoradas com vitrais, tendo uma rosácea na parte superior, ainda na abside esta localizado o altar-mor, duas aberturas de madeira com a parte superior de vitrais e com a imagem do Coração de Maria, essas portas recebem destaque devido a molduras de anjos e outra lisa.
Todas as igrejas góticas tinham suas fachadas divididas em seis zonas: três verticais e três horizontais. Ao observarmos a fachada externa do Templo Carmelita podemos notar que existe essa divisão a qual possui a torre lateral, rosácea, torre lateral no sentido vertical, enquanto que no sentido horizontal temos as três portas, galeria e rosácea com nichos e estátuas de santos e as torres. Algumas destas estátuas em forma de arcanjo trazem na mão o escapulário com os símbolos da ordem. Na fachada lateral do templo encontra-se o brasão da Ordem Carmelita e logo acima a imagem da Padroeira da Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo. Como todas as igrejas pertencentes a este estilo arquitetônico a igreja tem no ponto mais alto, sem serem as torres, a imagem da Santa Padroeira, geralmente na entrada principal do prédio, pois, desta forma a santa cuidaria de seus fiéis e abençoaria a cidade, lembrando sua vigilância para com seus filhos.

Passando para a parte interna do templo, nas paredes nas naves laterais estão fixadas as cenas pintadas na passagem da Via Sacra, constituída em mármore com a forma de uma igreja, apresentando duas torres laterais e uma central. Ainda encontramos na parte inferior das paredes uma decoração imitando mármore, em tons terrosos e figuras de arcos. Na parte superior da nave esquerda e direita existe um painel com pintura de cenas bíblicas. Na parte superior destinada ao coro vemos a rosácea da entrada principal, com vitrais coloridos e os arcos também, merecendo uma moldura de cimento trabalhado. Não podemos esquecer do órgão característico das igrejas medievais, utilizado nas apresentações do coro durante a cerimônia religiosa. A coluna que sustenta o coro e serve de divisa para a nave lateral e possui quatro nichos com imagens de santos. Estando com o olhar para o alto (teto) percebe-se a rosácea principal na abóboda central da igreja, no transepto, precedendo a abside, onde localiza-se o altar-mor, apresentando oito pontas e toda rendilhada, demonstrando a leveza dada ao material pesado.


As igrejas medievais góticas, geralmente tinham a forma de cruz latina, sendo que o transepto tornara-se quase imperceptível, o mesmo ocorre com o monumento rio-grandino. Ao passarmos o transepto chegaremos as absidíolas laterais, a nave lateral da direita de quem entra na igreja é composta por bancos de madeira, um confessionário de madeira trabalhada contendo o brasão da Ordem do Carmo. Seu piso é todo de tijoleta, formando figuras geométricas abstratas, o mesmo ocorre na nave lateral esquerda, diferenciada por alguns objetos. A absidíola direita temos o altar todo em mármore, o qual foi confeccionado em Porto Alegre e nele temos as imagens do Sagrado Coração de Jesus, no alto Menino Jesus de Praga, ladeado por Santa Rita, Nossa Senhora Aparecida e Santa Luzia. Na nave lateral esquerda temos uma Pia Batismal em mármore, que está no início da nave, em frente a uma linda pintura do batismo de Jesus, seguindo encontramos o mesmo confessionário, bancos e ao fim o altar igual à nave direita modificando as imagens: no alto Santa Teresinha do Menino Jesus, abaixo Nossa Senhora das Graças, ladeada por São Vicente de Paula, São Pedro o padroeiro da cidade e Santo Antônio. Na parte inferior do altar esta a imagem de Santa Teresinha no túmulo. O Piso da absidíola e composto por tijoletas formando uma rosácea.


A nave principal é ampla, existindo duas fileiras de bancos de madeira trabalhada, um oratório em madeira com um pináculo imitando a torre da igreja. Ao chegarmos no transepto, podemos nos encantar com a magnificência do altar-mor localizado na abside separada do transepto por alguns degraus e uma grade de mármore como se fosse uma porteira. Como podemos verificar in loco, a beleza do altar, no nicho central a imagem da Padroeira da Igreja, Nossa Senhora do Monte do Carmo, acima deste, um crucifixo de dois metros de altura, doado pela senhora Lya Py da Cunha, ao lado de Nossa Senhora do Carmo estão São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila. No altar propriamente dito temos São José (esculpido em madeira com olhos de vidro, uma escultura típica barroca), Profeta Elias, Santa Ana, São Luiz Gonzaga, Arcanjos e Santa Cecília. O altar na parte inferior possui um alto-relevo em bronze. Na lateral direita da abside está o que os fiéis chamam de luz de Jesus, o qual demonstra que Jesus está vivo no sacrário.

Cabe destacar o escultor rio-grandino Serafim José Ribeiro, o santeiro que esculpiu a imagem do Senhor Morto em um período de seis meses. A imagem tem oito palmos e os braços se movem de forma a prestar-se a cerimonia do descimento da cruz. Já a imagem da padroeira da igreja foi feita na Argentina e colocada no templo no ano de 1939 pelo Frei Caio, enquanto que a imagem anterior encontra-se junto com Nosso Senhor dos Passos na entrada da igreja, sendo transformada em Nossa Senhora das Dores pelo Frei Hipólito do Santíssimo Sacramento.

Todas essas características tornam a Igreja do Carmo um templo Neogótico, patrimônio da população e que ganhou beleza na imponência de um prédio destinado a elevação do espírito e por consequência elevou o orgulho da Cidade do Rio Grande.

SANTOS TEIXEIRA, Margareth Cristiane. Matriz de Nossa senhora do Carmo, ruptura na estética colonial portuguesa da Cidade do Rio Grande. Rio Grande-Furg, dez 2011.

Um comentário:

auroratur disse...

Inventário do "atrativo turístico" muito bem detalhado... Parabéns!!!