Patrimônio Histórico e Urbânidade em Rio Grande:

A cidade do Rio Grande por sua tradição histórica e por sua importância dentro do cenário ecônomico do Brasil sul meridional sempre foi uma região de confluência de interesses dos mais diversos povos e de tendências políticas ou ecônomicas. no decorrer destes ultimos duzentos e setenta e três anos a cidade se desenvolveu apesar de todas as dificuldades que enfrentou: problemas com imigração, conflito de fronteiras, dificuldades com a natureza, invasões espanholas e crises ecônomicas. superados esses problemas com muito sangue, suor e lágrimas, foi notável o desenvolvimento desta cidade, pois, muito fácil é observar o crescimento que se consubstanciou na forma de nossos prédios históricos e realizações culturais, entre elas podemos citar: a primeira biblioteca do RS, Câmara de Vereadores, industria textil, linha de bondes regular e refinaria de petróleo do país, entre outras.

Fica estabelecido que é na observação e valorização do nosso rico passado e nas nossas construções históricas que estão as soluções para os problemas de nossa cidade. Hoje nas grandes capitais da Europa o turismo histórico é uma realidade, pense nisso e vamos mudar a conjuntura....


sábado, 7 de fevereiro de 2015

HISTORICO DA PRAÇA TAMANDARÉ:

Os mapas do século XVIII indicam o espaço hoje ocupado pela Praça Tamandaré como um anecúmeno formado por cômoros de areia. A continuidade da Rua General Bacelar até a atual 24 de Maio teve uma importância crescente pelo fato de concentrar-se neste local grande parte do contingente militar e a Casa do Governador.

O terreno em frente aos estabelecimentos militares e de administração foi denominado de Praça dos Quartéis, devido à proximidade de edificações militares chamada popularmente de geribanda ou giribanda. Segundo Antenor Monteiro, esta palavra poderia ter origem no acesso de escravos e populares para esta área arenosa constituída por algumas lagoas, com objetivo de coletarem água potável para seus proprietários, encherem pipas para venda pública do líquido ou para lavarem roupas. Monteiro entende que o “ajuntamento de pessoas neste local poderia trazer disputas, sarabandas (descomposturas) e até mesmo lutas corporais, que poderiam fazer daquele local uma giribanda”. O nome atual de Praça Tamandaré foi uma homenagem da Câmara Municipal do Rio Grande em sessão realizada no dia 20 de abril de 1865 ao Almirante Joaquim Marques Lisboa. Sua atuação na Guerra do Paraguai o fez patrono da Marinha do Brasil.

Em 1820, visitando a então Vila do Rio Grande, Auguste Saint-Hilaire (Viagem ao Rio Grande do Sul) escreveu: “como já tenho dito, não há aqui nascentes, nem fontes de água doce, mas atrás da cidade, entre os montículos de areia (em lugar denominado Geribanda), cavaram-se poços, onde a pequena profundidade se encontra muito boa água. Estima-se que a população do Rio Grande em cerca de dois mil habitantes entre os quais há muito europeus e apenas um pequeno número de mulatos”.
No mapa urbano de 1829, a área da praça aparece descrita como um “terreno arenoso com combros e por isso incapaz de se povoar presentemente”.

A expansão urbana foi incrementando a valorização daquele vasto terreno situado próximo ao centro da Vila do Rio Grande de São Pedro (1751), localidade que desde 1835 passou a condição administrativa de Cidade do Rio Grande.

Antes de tornar-se um espaço público, ocorreram várias disputas pela ocupação da área para fins particulares, religiosos e industriais. No jornal Diário do Rio Grande de 24 de dezembro de 1850 foi feita uma denúncia sobre a ocupação da área por “alguns cidadãos ilustres da cidade” que supostamente teriam recebido terrenos no local a partir da autorização da Câmara de Vereadores. Como o consumo de água potável ficaria comprometido com a ocupação, investigou-se a legalidade da atuação e descobriu-se que a câmara não havia autorizado oficialmente a distribuição de terrenos. Rechaçando desta forma a pretensão dos “ilustres” que já haviam cercado seus terrenos.

Coube a Câmara Municipal participar do embate pela disputada ocupação daquele amplo terreno arenoso e alagadiço. A definição deste espaço como público e não privado definiu-se a partir de debates e requerimentos negados ou aprovados. A pressão de políticos, em 1887, para que fosse efetivada a construção de um novo templo serviu para ações no sentido de definição da área como espaço público, pois a câmara indeferiu o pedido e inciou o aterramento e o ajardinamento de uma parte do terreno. Em 1891, um novo pedido de construção de uma capela foi indeferido pelos vereadores.

Em documentos resgatados por Antenor Monteiro, uma nova tentativa, agora voltada à ação industrial, foi desfechada em 1893. Em um ofício encaminhado pelo Coronel Augusto de Carvalho, intendente municipal, à Câmara de Vereadores: “Cidadãos Conselheiros Municipais: o cidadão Giovanne Heusemberger & Cia., requerem a esta intendência por aforamento perpétuo uma parte ou duas quadras da Praça Tamandaré, limitadas pelas ruas General Neto, 24 de Maio e Conde de Porto Alegre, para estabelecer uma fábrica de tecidos, oferecendo a quantia de 5000$000 para melhoramentos materiais”. A concessão foi aprovada pela câmara com o voto contrário de um vereador, Carlos Rheingantz, uma vez que a empresa Giovanne Heusemberger era uma concorrente no ramo da indústria têxtil.

A praça foi preservada, pois o proprietário da indústria resolveu instalar-se noutro local. Também a indústria de Charutos Pook & Cia., tentou estabelecer-se na praça, porém, teve seu pedido negado pelo Conselho Municipal.

A área parcialmente alagada também deixou registros de mortes como foi relatado no jornal Diário do Rio Grande de 23 de julho de 1859, quando um soldado foi encontrado morto em seu interior. Em 1874, outro homem, embriagado, foi encontrado sem vida numa das lagoas, num periodo de chuvas fortes.

Um dos poços e o tanque para bebedouro dos animais foram construídos em 1848. A câmara no ano de 1862, mandou cercar a praça “por marcos e duas ordens decorrentes, para que os animais não embacem os melhoramentos que seriam arborizar e fazer um tapete de relva em vez de areias”.

No início da década de 1870 havia na praça cinco poços construídos com tijolos e cantaria e um bebedouro para animais e para consumo da população. Ainda em abril de 1870, a Presidência da Província ordenou a Diretoria da Fazenda que liberasse recursos para o aterramento da praça. O projeto de melhoramentos de 1876 propunha fazer uma canalização que concentrasse toda água acumulada na praça em um único lago central, cercado por árvores. Porém as dificuldades de percorrer a praça no período de chuvas, o que a tornava intransitável, mantinha a situação sem solução ainda no ano de 1878, apesar dos debates buscando soluções prosseguirem. Em 1876 a Companhia Hidráulica comprou na Inglaterra o chafariz situado na proximidade da Rua General Neto com Silva Paes. Em 1878 foram fechados os poços por exigência do contrato feito com a Companhia Hidráulica.

De acordo com Antenor Monteiro, em outubro de 1887, a Câmara “por intermédio da comissão, que para isso fora nomeada, contratou o Dr. Duprat, diretor da Companhia Estrada de Ferro, pra o transporte diário de 135 wagons (vagões) de areia para aterro da praça a razão de 11$500. no mesmo ano, sob o projeto de engenheiro da Câmara, foi iniciado o plano geral do embelezamento da praça. Em 1890 foram despejados 175 wagons de areia”. Em 13 de janeiro de 1890, foi ordenada a retirada e a venda do aramado da praça por este se encontrar em mau estado de conservação.

Fontana, um escritor rio-grandino do século XIX, destacava a Praça Municipal como “vasta praça e único passeio recreativo da cidade, é comumente denominada de Boulevard Rio-Grandense”, porém, “lamenta-se que não mereça mais atenção da edilidade. Já na Praça Tamandaré existiam seis fontes públicas para coleta de água e lavagem de roupas, erguendo-se no centro desta “uma modesta cruz ali colocada em 1842 pela missão jesuítica a estas plagas”. A praça já ostentava a denominação de Tamandaré, mas mantinha sua função ligada às fontes públicas ali existentes sem a perspectiva imediata de tornar-se uma praça voltada ao “passeio recreativo da população”.

Área almejada e que se valorizou com o desenvolvimento da cidade, a Praça Tamandaré começou a receber uma atenção mais destacada a partir de 1895, através de projetos de melhoramentos que se estenderam até o ano seguinte. O projeto previu a construção de chalé, plantação de mudas de árvores, ajardinamento, construção de lagos e ilhotas. Em 1896 nestes lagos faltava somente a colocação do revestimento de fundo composto por barro oriundo de Pelotas, portanto os lagos remontam a pelo menos o ano citado.

Na virada do século XX, a praça já tem um destaque estadual pelo espaço de lazer que passa a proporcionar à população e pela apresentação de bandas musicais como é o caso da Banda Rossini.

Ainda no início do século passado o papel de fornecer água potável foi mantido e a figura dos cata-ventos eram presentes na praça, tendo como objetivo, talvez, a remoção do excesso de água do lago em períodos chuvosos. Os primórdios desta instalação podem ser do final do século XIX, mas talvez remonte até meados do século XVIII, numa prática açoriana, pois um mapa de aproximadamente 1750 apresenta o desenho de um cata-vento em local próximo a atual Praça Tamandaré. O cata-vento que aparece nas antigas fotos da praça, localizado nas ruas General Neto com Luiz Loréa tinha como função a captação de água e o acionamento de um chafariz.

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