Os mapas do século XVIII indicam
o espaço hoje ocupado pela Praça Tamandaré como um anecúmeno
formado por cômoros de areia. A continuidade da Rua General Bacelar
até a atual 24 de Maio teve uma importância crescente pelo fato de
concentrar-se neste local grande parte do contingente militar e a
Casa do Governador.
O terreno em frente aos
estabelecimentos militares e de administração foi denominado de
Praça dos Quartéis, devido à proximidade de edificações
militares chamada popularmente de geribanda ou giribanda. Segundo
Antenor Monteiro, esta palavra poderia ter origem no acesso de
escravos e populares para esta área arenosa constituída por algumas
lagoas, com objetivo de coletarem água potável para seus
proprietários, encherem pipas para venda pública do líquido ou
para lavarem roupas. Monteiro entende que o “ajuntamento de pessoas
neste local poderia trazer disputas, sarabandas (descomposturas) e
até mesmo lutas corporais, que poderiam fazer daquele local uma
giribanda”. O nome atual de Praça Tamandaré foi uma homenagem da
Câmara Municipal do Rio Grande em sessão realizada no dia 20 de
abril de 1865 ao Almirante Joaquim Marques Lisboa. Sua atuação na
Guerra do Paraguai o fez patrono da Marinha do Brasil.
Em 1820, visitando a então Vila
do Rio Grande, Auguste Saint-Hilaire (Viagem ao Rio Grande do Sul)
escreveu: “como já tenho dito, não há aqui nascentes, nem fontes
de água doce, mas atrás da cidade, entre os montículos de areia
(em lugar denominado Geribanda), cavaram-se poços, onde a pequena
profundidade se encontra muito boa água. Estima-se que a população
do Rio Grande em cerca de dois mil habitantes entre os quais há
muito europeus e apenas um pequeno número de mulatos”.
No mapa urbano de 1829, a área
da praça aparece descrita como um “terreno arenoso com combros e
por isso incapaz de se povoar presentemente”.
A expansão urbana foi
incrementando a valorização daquele vasto terreno situado próximo
ao centro da Vila do Rio Grande de São Pedro (1751), localidade que
desde 1835 passou a condição administrativa de Cidade do Rio
Grande.
Antes de tornar-se um espaço
público, ocorreram várias disputas pela ocupação da área para
fins particulares, religiosos e industriais. No jornal Diário do Rio
Grande de 24 de dezembro de 1850 foi feita uma denúncia sobre a
ocupação da área por “alguns cidadãos ilustres da cidade” que
supostamente teriam recebido terrenos no local a partir da
autorização da Câmara de Vereadores. Como o consumo de água
potável ficaria comprometido com a ocupação, investigou-se a
legalidade da atuação e descobriu-se que a câmara não havia
autorizado oficialmente a distribuição de terrenos. Rechaçando
desta forma a pretensão dos “ilustres” que já haviam cercado
seus terrenos.
Coube a Câmara Municipal
participar do embate pela disputada ocupação daquele amplo terreno
arenoso e alagadiço. A definição deste espaço como público e não
privado definiu-se a partir de debates e requerimentos negados ou
aprovados. A pressão de políticos, em 1887, para que fosse
efetivada a construção de um novo templo serviu para ações no
sentido de definição da área como espaço público, pois a câmara
indeferiu o pedido e inciou o aterramento e o ajardinamento de uma
parte do terreno. Em 1891, um novo pedido de construção de uma
capela foi indeferido pelos vereadores.
Em documentos resgatados por
Antenor Monteiro, uma nova tentativa, agora voltada à ação
industrial, foi desfechada em 1893. Em um ofício encaminhado pelo
Coronel Augusto de Carvalho, intendente municipal, à Câmara de
Vereadores: “Cidadãos Conselheiros Municipais: o cidadão Giovanne
Heusemberger & Cia., requerem a esta intendência por aforamento
perpétuo uma parte ou duas quadras da Praça Tamandaré, limitadas
pelas ruas General Neto, 24 de Maio e Conde de Porto Alegre, para
estabelecer uma fábrica de tecidos, oferecendo a quantia de 5000$000
para melhoramentos materiais”. A concessão foi aprovada pela
câmara com o voto contrário de um vereador, Carlos Rheingantz, uma
vez que a empresa Giovanne Heusemberger era uma concorrente no ramo
da indústria têxtil.
A praça foi preservada, pois o
proprietário da indústria resolveu instalar-se noutro local. Também
a indústria de Charutos Pook & Cia., tentou estabelecer-se na
praça, porém, teve seu pedido negado pelo Conselho Municipal.
A área parcialmente alagada
também deixou registros de mortes como foi relatado no jornal Diário
do Rio Grande de 23 de julho de 1859, quando um soldado foi
encontrado morto em seu interior. Em 1874, outro homem, embriagado,
foi encontrado sem vida numa das lagoas, num periodo de chuvas
fortes.
Um dos poços e
o tanque para bebedouro dos animais foram construídos em 1848. A
câmara no ano de 1862, mandou cercar a praça “por marcos e duas
ordens decorrentes, para que os animais não embacem os melhoramentos
que seriam arborizar e fazer um tapete de relva em vez de areias”.
No início da década de 1870
havia na praça cinco poços construídos com tijolos e cantaria e um
bebedouro para animais e para consumo da população. Ainda em abril
de 1870, a Presidência da Província ordenou a Diretoria da Fazenda
que liberasse recursos para o aterramento da praça. O projeto de
melhoramentos de 1876 propunha fazer uma canalização que
concentrasse toda água acumulada na praça em um único lago
central, cercado por árvores. Porém as dificuldades de percorrer a
praça no período de chuvas, o que a tornava intransitável,
mantinha a situação sem solução ainda no ano de 1878, apesar dos
debates buscando soluções prosseguirem. Em 1876 a Companhia
Hidráulica comprou na Inglaterra o chafariz situado na proximidade
da Rua General Neto com Silva Paes. Em 1878 foram fechados os poços
por exigência do contrato feito com a Companhia Hidráulica.
De acordo com Antenor Monteiro,
em outubro de 1887, a Câmara “por intermédio da comissão, que
para isso fora nomeada, contratou o Dr. Duprat, diretor da Companhia
Estrada de Ferro, pra o transporte diário de 135 wagons (vagões) de
areia para aterro da praça a razão de 11$500. no mesmo ano, sob o
projeto de engenheiro da Câmara, foi iniciado o plano geral do
embelezamento da praça. Em 1890 foram despejados 175 wagons de
areia”. Em 13 de janeiro de 1890, foi ordenada a retirada e a venda
do aramado da praça por este se encontrar em mau estado de
conservação.
Fontana, um escritor rio-grandino
do século XIX, destacava a Praça Municipal como “vasta praça e
único passeio recreativo da cidade, é comumente denominada de
Boulevard Rio-Grandense”, porém, “lamenta-se que não mereça
mais atenção da edilidade. Já na Praça Tamandaré existiam seis
fontes públicas para coleta de água e lavagem de roupas,
erguendo-se no centro desta “uma modesta cruz ali colocada em 1842
pela missão jesuítica a estas plagas”. A praça já ostentava a
denominação de Tamandaré,
mas mantinha sua função ligada às fontes públicas ali existentes
sem a perspectiva imediata de tornar-se uma praça voltada ao
“passeio recreativo da população”.
Área almejada e que se valorizou
com o desenvolvimento da cidade, a Praça Tamandaré começou a
receber uma atenção mais destacada a partir de 1895, através de
projetos de melhoramentos que se estenderam até o ano seguinte. O
projeto previu a construção de chalé, plantação de mudas de
árvores, ajardinamento, construção de lagos e ilhotas. Em 1896
nestes lagos faltava somente a colocação do revestimento de fundo
composto por barro oriundo de Pelotas, portanto os lagos remontam a
pelo menos o ano citado.
Na virada do século XX, a praça
já tem um destaque estadual pelo espaço de lazer que passa a
proporcionar à população e pela apresentação de bandas musicais
como é o caso da Banda Rossini.
Ainda
no início do século passado o papel de fornecer água potável foi
mantido e a figura dos cata-ventos eram presentes na praça, tendo
como objetivo, talvez, a remoção do excesso de água do lago em
períodos chuvosos. Os primórdios desta instalação podem ser do
final do século XIX, mas talvez remonte até meados do século
XVIII, numa prática açoriana, pois um mapa de aproximadamente 1750
apresenta o desenho de um cata-vento em local próximo a atual Praça
Tamandaré. O cata-vento
que aparece nas antigas fotos da praça, localizado nas ruas General
Neto com Luiz Loréa tinha como função a captação de água e o
acionamento de um chafariz.
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