O
transporte urbano coletivo parece ter tido início nos primeiros anos
da década de 1850 por meio de carretões, espécie de ônibus
puxados por cavalos e mesmo bois. Em 1884 foi fundada a Companhia
Carris Urbanos do Rio Grande, transportando passageiros em vagões
sobre trilhos e puxados por burros ou a vapor. Os bondes a tração
animal desapareceram em 1922; todavia, vagões puxados por pequenas
locomotivas e bondes movidos a eletricidade (a maioria importados da
Inglaterra) continuaram a existir.
Os
bondes anunciavam, pelos seus itinerários, que a cidade se expandia
e que as necessidades da população em se locomover aumentavam. Eram
sinal de mudanças. Viajar ou passear, por um quarto de hora ou por
meia hora ao lado de um desconhecido, sem dirigir-lhe a palavra, ou
então trocar conversa formalmente sobre a política ou os costumes,
com alguém que não se sabia exatamente quem era, revelava o sinal
de novos tempos que o bonde poderia proporcionar. A eletricidade,
força motriz oculta para o olhos, que não podia ser vítima das
chacotas ou apelidos como os burros, reforçou ainda mais a veneração
do progresso industrial e dos avanços da racionalidade científica.
Em
1931, Rio Grande possuía 16 bondes elétricos. Em 1935, 22 carros,
em 1940, 42 unidades e um total de 24.500 km de linhas urbanas, com
movimento de 5.386.841 passageiros nesse ano. Era comum nos
prospectos publicitários dos cine-teatros locais o anúncio:
“haverá bonds para todas as linhas depois do espetáculo”, o que
certamente favorecia a frequência às casas de espetáculos e a vida
noturna. O historiador Antenor Monteiro, em sua coluna intitulada
“Rebuscos”, publicada pelo Jornal Rio Grande, afirma que em 15 de
novembro de 1912 foi oficialmente inaugurada a tração elétrica e
em fins de dezembro começa o tráfego dos bondes pela Linha do
Parque, partindo os carros da então Praça da Caridade (hoje Praça
Barão de São José do Norte), de onde seguia pelas ruas Aquidaban e
Marechal Deodoro. Com a inauguração em 15 de novembro de 1922, das
linhas Poester e Matadouro, desaparecem os bondes de tração animal,
que ainda eram utilizados em algumas linhas.
Na
década de 40 a Prefeitura Municipal, que administrava o transporte
urbano através do Serviço Rio-Grandino de Transportes Coletivos,
adquire bondes modernos, logo apelidados pelo povo de “bonde
saféte”, certamente porque vinha escrito no estribo, que abria
automaticamente junto com a porta o termo inglês “safety”.
O
primeiro ônibus da cidade foi inaugurado em outubro de 1939, com
capacidade para 30 passageiros. Ao lado dos transportes públicos,
circulava pelas ruas um tráfego de transeuntes, carroças, coches e
automóveis particulares, um dos grandes símbolos da modernidade que
batia a porta.
Referências:
BITTENCOURT, Ezio da
Rocha. Da rua ao teatro, os prazeres de uma cidade: sociabilidades
e cultura no Brasil Meridional. Rio Grande, editora da
Furg, 2007.
SOARES,
Célio. Ecos do Passado. Rio Grande: Editora da
Furg, 2010.
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