Uma
construção para ser considerada de um determinado estilo, precisa
ter as principais características desse estilo, no caso o neogótico.
Como sabemos o neogótico é um retorno a estética gótica medieval,
que se instala no Brasil com uma lentidão e com quase cem anos de
diferença em relação ao racionalismo clássico, o que de fato é
expresso nas construções, pois, o estilo em discussão representa
na verticalidade do sentimento religioso, pois acreditava-se que
quanto mais alto o templo mais próximo de Deus estariam, ou seja, a
elevação da espiritualidade. Por esta razão até os artistas
envolvidos colocavam todo seu esforço, uma vez que modelariam a
“Casa de Deus” na terra.
Um
traço marcante na paisagem rio-grandina são as torres da igreja, as
quais estão presentes a todo instante, registrando todos os passos
dos fiéis, como se fossem os olhos de Deus. A lição das torres
pontuadas e altas e das flechas era a mais eficiente porque o
edifício era dominador e sempre presente na comunidade (Cheney 1995.
p 235). O idioma básico são os arcos ogivais, abóbodas ogivais e
abóbodas nervuradas que, nitidamente notamos na Igreja do Carmo e
que contribuem para formar o estilo, assim como as aberturas em forma
de arco lanceolado decoradas com vitrais, tendo uma rosácea na parte
superior, ainda na abside esta localizado o altar-mor, duas aberturas
de madeira com a parte superior de vitrais e com a imagem do Coração
de Maria, essas portas recebem destaque devido a molduras de anjos e
outra lisa.
Todas
as igrejas góticas tinham suas fachadas divididas em seis zonas: três
verticais e três horizontais. Ao observarmos a fachada externa do
Templo Carmelita podemos notar que existe essa divisão a qual possui
a torre lateral, rosácea, torre lateral no sentido vertical,
enquanto que no sentido horizontal temos as três portas, galeria e
rosácea com nichos e estátuas de santos e as torres. Algumas destas
estátuas em forma de arcanjo trazem na mão o escapulário com os
símbolos da ordem. Na fachada lateral do templo encontra-se o brasão
da Ordem Carmelita e logo acima a imagem da Padroeira da Igreja de
Nossa Senhora do Monte do Carmo. Como todas as igrejas pertencentes a
este estilo arquitetônico a igreja tem no ponto mais alto, sem serem
as torres, a imagem da Santa Padroeira, geralmente na entrada
principal do prédio, pois, desta forma a santa cuidaria de seus
fiéis e abençoaria a cidade, lembrando sua vigilância para com
seus filhos.
Passando
para a parte interna do templo, nas paredes nas naves laterais estão
fixadas as cenas pintadas na passagem da Via Sacra, constituída em
mármore com a forma de uma igreja, apresentando duas torres laterais
e uma central. Ainda encontramos na parte inferior das paredes uma
decoração imitando mármore, em tons terrosos e figuras de arcos.
Na parte superior da nave esquerda e direita existe um painel com
pintura de cenas bíblicas. Na parte superior destinada ao coro vemos
a rosácea da entrada principal, com vitrais coloridos e os arcos
também, merecendo uma moldura de cimento trabalhado. Não podemos
esquecer do órgão característico das igrejas medievais, utilizado
nas apresentações do coro durante a cerimônia religiosa. A coluna
que sustenta o coro e serve de divisa para a nave lateral e possui
quatro nichos com imagens de santos. Estando com o olhar para o alto
(teto) percebe-se a rosácea principal na abóboda central da igreja,
no transepto, precedendo a abside, onde localiza-se o altar-mor,
apresentando oito pontas e toda rendilhada, demonstrando a leveza
dada ao material pesado.
As
igrejas medievais góticas, geralmente tinham a forma de cruz latina,
sendo que o transepto tornara-se quase imperceptível, o mesmo ocorre
com o monumento rio-grandino. Ao passarmos o transepto chegaremos as
absidíolas laterais, a nave lateral da direita de quem entra na
igreja é composta por bancos de madeira, um confessionário de
madeira trabalhada contendo o brasão da Ordem do Carmo. Seu piso é
todo de tijoleta, formando figuras geométricas abstratas, o mesmo
ocorre na nave lateral esquerda, diferenciada por alguns objetos. A
absidíola direita temos o altar todo em mármore, o qual foi
confeccionado em Porto Alegre e nele temos as imagens do Sagrado
Coração de Jesus, no alto Menino Jesus de Praga, ladeado por Santa
Rita, Nossa Senhora Aparecida e Santa Luzia. Na nave lateral esquerda
temos uma Pia Batismal em mármore, que está no início da nave, em
frente a uma linda pintura do batismo de Jesus, seguindo encontramos
o mesmo confessionário, bancos e ao fim o altar igual à nave
direita modificando as imagens: no alto Santa Teresinha do Menino
Jesus, abaixo Nossa Senhora das Graças, ladeada por São Vicente de
Paula, São Pedro o padroeiro da cidade e Santo Antônio. Na parte
inferior do altar esta a imagem de Santa Teresinha no túmulo. O Piso
da absidíola e composto por tijoletas formando uma rosácea.
A
nave principal é ampla, existindo duas fileiras de bancos de madeira
trabalhada, um oratório em madeira com um pináculo imitando a torre
da igreja. Ao chegarmos no transepto, podemos nos encantar com a
magnificência do altar-mor localizado na abside separada do
transepto por alguns degraus e uma grade de mármore como se fosse
uma porteira. Como podemos verificar in loco, a beleza do altar, no
nicho central a imagem da Padroeira da Igreja, Nossa Senhora do Monte
do Carmo, acima deste, um crucifixo de dois metros de altura, doado
pela senhora Lya Py da Cunha, ao lado de Nossa Senhora do Carmo estão
São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila. No altar propriamente
dito temos São José (esculpido em madeira com olhos de vidro, uma
escultura típica barroca), Profeta Elias, Santa Ana, São Luiz
Gonzaga, Arcanjos e Santa Cecília. O altar na parte inferior possui
um alto-relevo em bronze. Na lateral direita da abside está o que os
fiéis chamam de luz de Jesus, o qual demonstra que Jesus está vivo
no sacrário.
Cabe
destacar o escultor rio-grandino Serafim José Ribeiro, o santeiro
que esculpiu a imagem do Senhor Morto em um período de seis meses. A
imagem tem oito palmos e os braços se movem de forma a prestar-se a
cerimonia do descimento da cruz. Já a imagem da padroeira da igreja
foi feita na Argentina e colocada no templo no ano de 1939 pelo Frei
Caio, enquanto que a imagem anterior encontra-se junto com Nosso
Senhor dos Passos na entrada da igreja, sendo transformada em Nossa
Senhora das Dores pelo Frei Hipólito do Santíssimo Sacramento.
Todas
essas características tornam a Igreja do Carmo um templo Neogótico,
patrimônio da população e que ganhou beleza na imponência de
um prédio destinado a elevação do espírito e por consequência
elevou o orgulho da Cidade do Rio Grande.
SANTOS
TEIXEIRA, Margareth Cristiane. Matriz de Nossa senhora do Carmo,
ruptura na estética colonial portuguesa da Cidade do Rio Grande. Rio
Grande-Furg, dez 2011.