quinta-feira, 2 de abril de 2015
REESTRUTURAÇÃO DO RIO DE JANEIRO....consequências para arquitetura nacional.
A cidade do Rio de Janeiro tinha o principal porto de exportação e
importação do país e o terceiro porto em importância no continente americano,
depois de Nova York e Buenos Aires. Mais que isso, como capital da república
ela era a vitrine do país. Num momento de intensa demanda de capitais, técnicos
e imigrantes europeus, a cidade deveria operar como um atrativo para os
estrangeiros. Mas ao contrário, ela era acometida por uma serie de endemias,
que assolavam e vitimavam sua população, e eram ainda mais vorazes pra com os
estrangeiros, os quais não dispunham dos anticorpos longamente desenvolvidos
pela população local. Por isso a cidade tinha, desde o início do século XIX, a indesejável reputação
de “tumulo do estrangeiro”.
As autoridades conceberam um plano em três dimensões para enfrentar todos
esses problemas. Executar simultaneamente a modernização do porto, o saneamento
da cidade e a reforma do porto. A reforma urbana coube ao engenheiro urbanista Pereira
Passos, que havia acompanhado a reforma urbana
de Paris sob o comando do Barão de Haussmann. A regeneração se completou no fim
de 1904. Seu marco foi a inauguração da Avenida Central, atual Avenida Rio
Branco, eixo do novo projeto urbanístico da cidade, contemplada com um concurso
de fachadas que a cercou de um décor arquitetônico Art Noveau, em mármore e
cristal, combinando com elegantes lampiões da moderna iluminação elétrica e as
luzes das vitrines das lojas de artigos finos importados. As revistas mundanas
e os colunistas sociais da grande imprensa incitavam a população afluente para
o desfile de modas na grande passarela da avenida, os rapazes no rigor dos
trajes ingleses, as damas exibindo as últimas extravagâncias dos tecidos,
cortes e chapéus franceses.
A atmosfera cosmopolita desceu sobre a cidade renovada era tal que, as
vésperas da Primeira Guerra Mundial, as pessoas ao se cruzarem no grande
bulevar não se cumprimentavam mais à brasileira, mas repetiam uns aos outros:
“Vive La France!”.
No afã do esforço modernizador, as novas elites se empenhavam em reduzir
a complexa realidade social brasileira, singularizada pelas mazelas herdadas do
colonialismo e da escravidão, ao ajustamento em conformidade com padrões
abstratos de gestão social hauridos de modelos europeus ou norte-americanos.
Jürgen Habermas descreveu com muita
clareza como se operou, nas sociedades européias ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX a gênese simultânea do grande publico dos salões,
dos teatros e da imprensa, por um lado e, pelo outro, o processo de
privatização como uma emancipação psicológica da consciência burguesa, derivada
da progressiva autonomia dos indivíduos no mercado capitalista e dos cidadãos
na ordem política representativa. Ambos esses desenvolvimentos tem, portanto,
uma mesma e inseparável raiz histórica, em razão da qual só poderão ser
interpretados em suas relações recíprocas: “assim como a privacidade de um se
funda na dimensão pública do outro, e a subjetividade do individuo privado se refere
desde o inicio à esfera pública”.
Segundo o autor, duas esferas
coexistem na sociedade: o sistema
e o mundo da vida. O sistema
refere-se à 'reprodução material', regida pela lógica instrumental (adequação
de meios a fins), incorporada nas relações hierárquicas (poder político) e de
intercâmbio (economia). O mundo da vida é a esfera de 'reprodução simbólica', da
linguagem, das redes de significados que compõem determinada visão de mundo,
sejam eles referentes aos fatos objetivos, às normas sociais ou aos conteúdos
subjetivos.
A intensificação dos contatos e das trocas internacionais promovida pela
instauração do regime republicano naturalmente acelerou esse curso de
transformações históricas. Na dinâmica da nova ordem, tanto ampliou-se a
construção de uma esfera pública, reforçada pela expansão crescente da imprensa
e das oportunidades de convívio cultural, quanto se agudizaram os sentidos e
valores associados ao desfrute de experiências de privacidade. Esse, contudo, é
o panorama ideal, na medida em que as condições históricas do país tornam tanto
a participação no contexto do espaço público, privilégio de poucos.
A estabilização brasileira assinala uma sincronia com a ordem
internacional. O enriquecimento baseado no crescimento explosivo dos negócios
formou o pano de fundo do que se tornou conhecido como “belos tempos”.
Pereira Passos foi nomeado engenheiro do Ministério do Império em 1874,
cabendo ao mesmo acompanhar todas as obras do governo imperial. Integrou a
comissão que iria apresentar o plano geral de reformulação urbana da capital,
incluindo o alargamento de ruas, construção de grandes avenidas, canalizações
de rios entre outras medidas urbanas e sanitárias. O levantamento realizado de
1875 a 1876 seria a base do futuro plano diretor da cidade, posto em prática na
administração de Passos como prefeito.
O POSITIVISMO COMO FUNDAMENTO DA CRIAÇÃO DE UMA NOVA ARQUITETURA:
O estado positivista é o termo fixo e definitivo em que o espírito humano
descansa e encontra a ciência. As sociedades evoluem segundo essa lei e os
indivíduos em outro plano, também realizam a mesma evolução.
O positivismo não aceita as classes sociais com o significado geralmente
empregado na atualidade. Aceita sim que toda a sociedade desde a mais
primitiva, há dirigentes e dirigidos. Os dirigentes devem sempre ser os mais
capazes, isto é, aqueles que influem na educação e na cultura da espécie
humana: são os sacerdotes, os filósofos, os cientistas, os jornalistas, os
professores..., ou melhor, os teóricos que modificam o pensamento dos
indivíduos através de sua pregação e de sua conduta moral.
Embasado na concepção biológica da sociologia, Augusto Comte entende a
sociedade como um organismo cujas partes são heterogêneas, mas solidarias, pois
se orientam para a conservação do conjunto. O progresso da sociedade é
caracterizado, assim pela incessante especialização das funções, como todo o
desenvolvimento orgânico, para maior aperfeiçoamento na evolução dos órgãos
particulares .
O Positivismo, “como regime definitivo da razão humana frente à ação
dissolvente da metafísica” surgiu do progressismo, baseado no desenvolvimento
cientifico que dominou todo o século XIX, com o objetivo de aproveitar as virtudes do progresso, ou da
evolução progressiva, pela compreensão racional e cientifica do problema da
ordem determinando os elementos fundamentais de toda sociedade humana.
A política positiva não reconhece nenhum direito além do de cumprir o
dever, e assim, nega categoricamente a própria existência do direito como tal.
Ele entende que o positivismo não admite senão deveres para com todos; pois que
seu ponto de vista, sempre social, não pode comportar nenhuma noção de direito,
constantemente fundada na individualidade. O homem como individualidade não
existe, portanto, na sociedade cientifica, senão como membro de outros grupos,
desde o familiar – unidade básica por excelência até o político.
Também não existe lugar para liberdade de consciência, a consciência para
Comte, não determina sozinha o modo de existência prática, como não bastam às
condições materiais da vida para definir a consciência. E a própria soberania
popular é um termo vazio de sentido em sua política positiva, onde a ditadura
se exercita num despotismo espiritual e temporal, pois adota a principio da
força como fundamento de governo.
No que tange ao processo de desenvolvimento da arquitetura eclética no
Brasil, podemos dizer que ela é a manifestação construtiva de um segmento
social representado por uma elite dominante, que através das idéias do
positivismo procurava marcar de maneira definitiva o seu papel de superioridade
diante de uma grande maioria populacional existente até então no país. A
diferenciação marcante entre o estilo de morar de ricos e pobres deixava clara
a divisão entre aqueles que deveriam tomar as rédeas do poder no estado e
aqueles que deveriam se submeter aos ditames dessa mesma elite. A separação entre
o publico e o privado ficou marcado de maneira indelével como o ocorrido no
projeto “Bota a Baixo” do prefeito Pereira Passos na cidade do Rio de Janeiro
em 1904. Era o momento oportuno para as elites consolidarem o poder republicano
em oposição a aqueles que ainda viam no império uma maneira mais esclarecida de
administrar o Brasil.
segunda-feira, 9 de março de 2015
JORNADA DE FOTOGRAFIA: Palestra....2014.
Este evento foi realizado em agosto de 2014 e visava principalmente demonstrar as possibilidades da fotografia como meio de esclarecimento e conscientização sobre a importância da manutenção do patrimônio histórico edificado, basicamente falamos na possibilidade de registro fotográfico como denúncia as violações dos prédios históricos da cidade do Rio Grande ocasionadas pelo desconhecimento da importância em preservar os prédios mais que centenários da Cidade Noiva do Mar....foram registradas visualmente no evento as violações, depredações e descaracterizações desses prédios e principalmente abordamos que esses abusos são causados pela falta de conscientização e de uma de fiscalização efetiva dos gestores públicos a fim de e evitar a desagregação do valor patrimonial local.
O que é o projeto "Visões do Rio Grande":
Nome do autor: Jefferson José Alves Dutra
Titulação: Bacharel em História pela Furg
Palavras chave:
— Ciclos econômicos
— estilos arquitetônicos
— fotografia
Linha de pesquisa em história da arquitetura.
Resumo:
O presente
trabalho foi realizado como requisito para conclusão do curso de história
bacharelado que teve sua defesa nos finais de 2011 e que tinha como objetivo
mapear os prédios históricos da cidade do Rio Grande, principalmente os de
estilo eclético, através de um trabalho fotográfico que durou aproximadamente
três anos e que teve como abrangência geográfica o centro histórico da cidade
acima citada. Paralelamente ao trabalho de campo foi realizado um trabalho de
pesquisa histórica em fontes primárias (jornais, revistas e fotos antigas) e em
fonte bibliográfica buscando autores nacionais e internacionais com o objetivo
de compreender as nuances e especificidades no país e no mundo em que se
originaram as arquiteturas estudadas e fotografadas. O objetivo primordial com
a pesquisa bibliografia era tentar contextualizar o surgimento dessas
arquiteturas no cenário econômico, cultural e social onde cada arquitetura surgiu
principalmente na cidade Noiva do Mar.
Tivemos da
mesma forma a colaboração do arquiteto Oscar Décio Carneiro que nos deu
valiosas informações e mais que oportunos comentários sobre o nosso trabalho
dentro dos aspectos da arquitetura histórica do centro histórico municipal.
Ficou muito claro desde o início desta garimpagem de informações bibliográficas
que no município do Rio Grande e também em nosso Estado, foi a influencia da
imigração europeia a muito responsável pelas edificações construídas
principalmente nos finais do século XIX e início do século XX principalmente
nos estilos Neoclássico e Eclético, desta forma estes como os outros estilos
ficaram totalmente contextualizados dentro de sua perspectiva histórica e
comprovadamente não sendo resultado de uma atitude esporádica de
construcionismo e sim como inserção no cenário histórico local.
Introdução:
Este
trabalho teve sua gênese na leitura da obra de Nestor Goulart dos Reis filho –
Quadro da Arquitetura no Brasil, que é um dos precursores do estudo da
arquitetura no Brasil, tendo seu trabalho desenvolvido principalmente em São
Paulo, mas que em moldes gerais tinha uma arquitetura muito semelhante a
arquitetura desenvolvida no Rio Grande do Sul. Basicamente procuramos com o
trabalho demonstrar através da pesquisa histórica de vários autores em obras
publicadas e em jornais e revistas, também como em fotografias antigas e em
fotos atuais que este autor realizou que é na valorização do patrimônio
histórico edificado que residem as perspectivas futuras para um crescimento
turístico, artístico, cultural e econômico em nossa cidade. A fotografia neste
contexto foi deveras importante num sentido de materializar e documentar
registros visuais de nossa arquitetura histórica local e de criar uma base de
dados realista sobre as atuais condições do nosso patrimônio edificado.
Procuramos de maneira sistemática levantar a história do surgimento dos estilos
nos quatro níveis encontrados: mundial, nacional, estadual e no município que
era o foco central do desenvolvimento deste trabalho visto que era propósito
primordial, levantar os prédios ainda existentes, observar suas condições e
contextualizá-los em sua história com o fim de saber sobre sua real importância
para historia urbana do Rio Grande e a separação social neles percebida em um
contexto em que a burguesia tentava ressaltar sua relevância no cenário
mundial. O trabalho de campo teve a duração de três anos e se desenvolveu
basicamente durante o desenvolvimento do curso de graduação. Embora de maneira
descontinuada este trabalho circunscreveu um universo médio de 300 prédios que
foram considerados mais significativos para os resultados a que esperávamos
chegar.
Materiais e métodos:
Os
materiais utilizados para pesquisa foram realizados junto a bibliotecas locais
como a da Fundação Universidade do Rio Grande, Biblioteca Rio-grandense e
Biblioteca da Escola de Belas Artes, basicamente foi feito pesquisa em fontes
bibliográficas nesses locais e em jornais na Biblioteca Rio-grandense e no
Centro de Documentação Histórica da Furg onde colhemos pesquisas anteriores
sobre o tema, jornais, revistas e fotos, principalmente as fotos da biblioteca Rio-grandense.
Também foi utilizado material fotográfico de sites como o Papareia, Rio Grande
em Fotos e do acervo pessoal de amigos e colegas da Furg, além de professores
que agora não é possível listar todos sob o risco de algum esquecermos.
Para o
trabalho de campo fotográfico usamos máquina e uma planilha para registrar o
tipo de casa fotografado, a localização e a data de construção quando esta
existia no frontão das fachadas, além do estado geral destas construções.
Resultados e discussões:
Com este
trabalho foi possível a nós perceber algumas questões importantes: a primeira
delas foi a carência de fontes bibliográficas locais e a pouca quantidade de
fontes no país e o Estado do Rio Grande do Sul, a que se destacar no aspecto regional
a obra de Gunter Weimer que por sua especialidade no assunto em muito
contribuiu para o desenvolvimento de um trabalho que parecia bastante complexo
no seu contexto original, mas que acabou se desdobrando de maneira satisfatória
ao seu final. A solução para este problema foi em parte recorrer aos trabalhos
publicados na internet, principalmente no Google Acadêmico que é uma fonte
segura de pesquisa para trabalhos de graduação visto que os temas lá contidos
são publicados em instituições de ensino superior e assinados por seus autores.
Pela
pesquisa histórica feita nos livros, jornais, revistas, internet, fotos antigas
podemos levar a efeito a percepção de que as arquiteturas desenvolvidas na
Cidade do Rio Grande são, antes de mais nada, o resultado de uma conjuntura
histórica em que estão envolvidos, ou seja, em cada momento histórico estão
envolvidos, principalmente no desenrolar do século XIX e XX.
Essas
arquiteturas estão intimamente relacionadas com os contextos econômicos,
sociais e culturais de suas épocas e apresentamos provas disso, quando, por
exemplo, relacionamos o crescimento da arquitetura eclética com o surgimento da
industrialização dispersa em Rio Grande e na Cidade de São Paulo no fim do
século XIX. Em Rio Grande esse ciclo industrial fica bem marcado com o
surgimento da empresa Rheingantz.
Outro
importante achado nesta pesquisa foi o uso e utilidade da fotografia, fazendo
registro das imagens em arquivo para em uma etapa posterior avaliar os estilos
e as condições gerais dos prédios analisados.
Pelo
número de estruturas registradas e analisadas no trabalho de campo pudemos
perceber a enorme potencialidade turística que pode ser explorada no centro
histórico da Cidade do Rio Grande, mas que infelizmente está sendo subestimado
ou mesmo negligenciado por interesses escusos ou especulação imobiliária que
visa por fim a essas estruturas mais que centenárias. Talvez e nesse talvez agirmos
de maneira especulativa, a nossa tradição portuária não nos de condições de
perceber o potencial valor turístico das estruturas edificadas.
Conclusões:
Toda
arquitetura é resultado de seu tempo e das influências a que está submetida,
podemos observar através da pesquisa histórica que na Cidade do Rio Grande
nossos ciclos econômicos em muito contribuíram para materialização dessas
arquiteturas pelo acumulo de capital gerado pela industrialização, e sob o
ponto de vista cultural europeu no que se refere a concepção desses projetos.
Fica mais do que provado que precisamos fazer um questionamento sobre a atual
situação dos prédios históricos locais e perceber que é na valorização dessas
estruturas que potencializaremos mais um mercado para geração de recursos: o
turismo local.
Social e
culturalmente precisamos valorizar estas estruturas no sentido de dar uma
identidade e uma referencia ao nosso povo objetivando com isso termos um padrão
de referência para sabermos o quanto estamos evoluídos ou em quanto precisamos
ainda evoluir em relação as gerações passadas.
Do ponto
de vista técnico podemos afirmar que a maioria das construções fotografadas é
em seu estado razoável, embora algumas muito descaracterizadas em alguns
elementos de época, o que na verdade ainda falta na cidade é uma consciência
coletiva no sentido de preservar o total do patrimônio histórico edificado.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
ALVES, Francisco
das Neves. A Imprensa na Cidade do Rio
Grande (Um Catálogo Histórico).
Rio Grande: Fundação Universidade do Rio Grande, 2005.
BERTUSSI, Paulo
Iroquez e WEIMER, Günter. Arquitetura no
Rio Grande. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983.
BITTENCOURT,
Ézio da Rocha. Da Rua ao Teatro – os
prazeres de uma cidade/sociabilidades
e cultura no Brasil meridional. Rio Grande: Editora da Furg, 2005.
BIBLOS. Revista
do Departamento de Biblioteconomia e História – volume 20. Rio Grande: Editora
da Furg, 2006.
BURDEM, Ernest. Dicionário Ilustrado de Arquitetura.
Tradução de Alexandre Ferreira da silva. Porto Alegre: Editora Bookman, 2006.
CARVALHO,
Benjamin de A. Arquitetura no Tempo e no Espaço. Rio de Janeiro: Livraria
Freitas Bastos, 1968.
CZAJKOWSKI,
Jorge. Guia da Arquitetura Eclética no
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Centro de Arquitetura e Urbanismo, 2000.
DIÁRIO DO RIO
GRANDE. Rio Grande, n. 13426, 09 de janeiro de 1898.
ENSSLIN, Lidiane
Correia. Ecletismo Arquitetônico em
Jaguarão, Um estudo. Porto Alegre: Programa de Pós Graduação em Arquitetura
(Propar), dezembro de 2005.
FILHO, Nestor
Goulart dos Reis. Quadro da Arquitetura
no Brasil. São Paulo, 2011.
DAS NEVES,
Francisco Alves e TORRES, Luiz Henrique.
Visões do Rio Grande. Rio Grande: Furg, 1995.
HEINZ, Wagner
Philip Portella. A presença dos
imigrantes alemães e sua contribuição para
a economia e a cultura na cidade do Rio Grande (1824/1950). Pelotas:
Editora Universitária/Ufpel, 2010.
JUNIOR, João
Ribeiro. O que é positivismo. São
Paulo: Editora Brasiliense, 1985.
MAESTRI, Mário. O Escravo no Rio Grande do Sul, trabalho,
resistência e sociedade. Porto Alegre: Urfgs Editora, terceira edição,
1993.
MARTINS,
Solismar Fraga. Cidade do Rio Grande
(Industrialização e Urbanidade 1873/1990).
Rio Grande: Editora da Furg, 2006.
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e SEVCENKO Nicolau. História da vida
privada no Brasil/ volume III.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
PAULITSCH, Vivian S.
Rheingantz: Uma vila operária em Rio
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Editora da Furg,
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PIMENTEL,
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do Rio Grande. Porto Alegre: 1944.
PREFEITURA
MUNICIPAL DO RIO GRANDE. Inventário de Bens de Interesse Cultural. Disponível
em: http://www.riogrande.rs.gov.br/pagina/index.php/inventario-de-bens-culturais.
Acesso em 2011.
SHILING,
Voltaire. Culturas em Movimento - A presença alemã no Rio Grande do Sul.
Porto Alegre: Riocell, Timm e Timm Editora, 1992.
THIESEN, Beatriz
Walladão. Fábrica, Identidade e Paisagem
Urbana: Arqueologia da Bopp e Irmãos (1906-1924). Porto Alegre: PUC RS,
fevereiro de 2005.
OUTRAS FONTES DE
PESQUISA:
Entrevista com o
arquiteto Oscar Décio Carneiro em 09 de novembro de 2011, as 15 horas.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
CARACTERÍSTICAS QUE FAZEM DA IGREJA DO CARMO UMA CONSTRUÇÃO NEOGÓTICA:
Uma
construção para ser considerada de um determinado estilo, precisa
ter as principais características desse estilo, no caso o neogótico.
Como sabemos o neogótico é um retorno a estética gótica medieval,
que se instala no Brasil com uma lentidão e com quase cem anos de
diferença em relação ao racionalismo clássico, o que de fato é
expresso nas construções, pois, o estilo em discussão representa
na verticalidade do sentimento religioso, pois acreditava-se que
quanto mais alto o templo mais próximo de Deus estariam, ou seja, a
elevação da espiritualidade. Por esta razão até os artistas
envolvidos colocavam todo seu esforço, uma vez que modelariam a
“Casa de Deus” na terra.
Um
traço marcante na paisagem rio-grandina são as torres da igreja, as
quais estão presentes a todo instante, registrando todos os passos
dos fiéis, como se fossem os olhos de Deus. A lição das torres
pontuadas e altas e das flechas era a mais eficiente porque o
edifício era dominador e sempre presente na comunidade (Cheney 1995.
p 235). O idioma básico são os arcos ogivais, abóbodas ogivais e
abóbodas nervuradas que, nitidamente notamos na Igreja do Carmo e
que contribuem para formar o estilo, assim como as aberturas em forma
de arco lanceolado decoradas com vitrais, tendo uma rosácea na parte
superior, ainda na abside esta localizado o altar-mor, duas aberturas
de madeira com a parte superior de vitrais e com a imagem do Coração
de Maria, essas portas recebem destaque devido a molduras de anjos e
outra lisa.
Todas
as igrejas góticas tinham suas fachadas divididas em seis zonas: três
verticais e três horizontais. Ao observarmos a fachada externa do
Templo Carmelita podemos notar que existe essa divisão a qual possui
a torre lateral, rosácea, torre lateral no sentido vertical,
enquanto que no sentido horizontal temos as três portas, galeria e
rosácea com nichos e estátuas de santos e as torres. Algumas destas
estátuas em forma de arcanjo trazem na mão o escapulário com os
símbolos da ordem. Na fachada lateral do templo encontra-se o brasão
da Ordem Carmelita e logo acima a imagem da Padroeira da Igreja de
Nossa Senhora do Monte do Carmo. Como todas as igrejas pertencentes a
este estilo arquitetônico a igreja tem no ponto mais alto, sem serem
as torres, a imagem da Santa Padroeira, geralmente na entrada
principal do prédio, pois, desta forma a santa cuidaria de seus
fiéis e abençoaria a cidade, lembrando sua vigilância para com
seus filhos.
Passando
para a parte interna do templo, nas paredes nas naves laterais estão
fixadas as cenas pintadas na passagem da Via Sacra, constituída em
mármore com a forma de uma igreja, apresentando duas torres laterais
e uma central. Ainda encontramos na parte inferior das paredes uma
decoração imitando mármore, em tons terrosos e figuras de arcos.
Na parte superior da nave esquerda e direita existe um painel com
pintura de cenas bíblicas. Na parte superior destinada ao coro vemos
a rosácea da entrada principal, com vitrais coloridos e os arcos
também, merecendo uma moldura de cimento trabalhado. Não podemos
esquecer do órgão característico das igrejas medievais, utilizado
nas apresentações do coro durante a cerimônia religiosa. A coluna
que sustenta o coro e serve de divisa para a nave lateral e possui
quatro nichos com imagens de santos. Estando com o olhar para o alto
(teto) percebe-se a rosácea principal na abóboda central da igreja,
no transepto, precedendo a abside, onde localiza-se o altar-mor,
apresentando oito pontas e toda rendilhada, demonstrando a leveza
dada ao material pesado.
As
igrejas medievais góticas, geralmente tinham a forma de cruz latina,
sendo que o transepto tornara-se quase imperceptível, o mesmo ocorre
com o monumento rio-grandino. Ao passarmos o transepto chegaremos as
absidíolas laterais, a nave lateral da direita de quem entra na
igreja é composta por bancos de madeira, um confessionário de
madeira trabalhada contendo o brasão da Ordem do Carmo. Seu piso é
todo de tijoleta, formando figuras geométricas abstratas, o mesmo
ocorre na nave lateral esquerda, diferenciada por alguns objetos. A
absidíola direita temos o altar todo em mármore, o qual foi
confeccionado em Porto Alegre e nele temos as imagens do Sagrado
Coração de Jesus, no alto Menino Jesus de Praga, ladeado por Santa
Rita, Nossa Senhora Aparecida e Santa Luzia. Na nave lateral esquerda
temos uma Pia Batismal em mármore, que está no início da nave, em
frente a uma linda pintura do batismo de Jesus, seguindo encontramos
o mesmo confessionário, bancos e ao fim o altar igual à nave
direita modificando as imagens: no alto Santa Teresinha do Menino
Jesus, abaixo Nossa Senhora das Graças, ladeada por São Vicente de
Paula, São Pedro o padroeiro da cidade e Santo Antônio. Na parte
inferior do altar esta a imagem de Santa Teresinha no túmulo. O Piso
da absidíola e composto por tijoletas formando uma rosácea.
A
nave principal é ampla, existindo duas fileiras de bancos de madeira
trabalhada, um oratório em madeira com um pináculo imitando a torre
da igreja. Ao chegarmos no transepto, podemos nos encantar com a
magnificência do altar-mor localizado na abside separada do
transepto por alguns degraus e uma grade de mármore como se fosse
uma porteira. Como podemos verificar in loco, a beleza do altar, no
nicho central a imagem da Padroeira da Igreja, Nossa Senhora do Monte
do Carmo, acima deste, um crucifixo de dois metros de altura, doado
pela senhora Lya Py da Cunha, ao lado de Nossa Senhora do Carmo estão
São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila. No altar propriamente
dito temos São José (esculpido em madeira com olhos de vidro, uma
escultura típica barroca), Profeta Elias, Santa Ana, São Luiz
Gonzaga, Arcanjos e Santa Cecília. O altar na parte inferior possui
um alto-relevo em bronze. Na lateral direita da abside está o que os
fiéis chamam de luz de Jesus, o qual demonstra que Jesus está vivo
no sacrário.
Cabe
destacar o escultor rio-grandino Serafim José Ribeiro, o santeiro
que esculpiu a imagem do Senhor Morto em um período de seis meses. A
imagem tem oito palmos e os braços se movem de forma a prestar-se a
cerimonia do descimento da cruz. Já a imagem da padroeira da igreja
foi feita na Argentina e colocada no templo no ano de 1939 pelo Frei
Caio, enquanto que a imagem anterior encontra-se junto com Nosso
Senhor dos Passos na entrada da igreja, sendo transformada em Nossa
Senhora das Dores pelo Frei Hipólito do Santíssimo Sacramento.
Todas
essas características tornam a Igreja do Carmo um templo Neogótico,
patrimônio da população e que ganhou beleza na imponência de
um prédio destinado a elevação do espírito e por consequência
elevou o orgulho da Cidade do Rio Grande.
SANTOS
TEIXEIRA, Margareth Cristiane. Matriz de Nossa senhora do Carmo,
ruptura na estética colonial portuguesa da Cidade do Rio Grande. Rio
Grande-Furg, dez 2011.
sábado, 21 de fevereiro de 2015
IGREJA DE NOSSA SENHORA DO CARMO: Um histórico
A Igreja do Carmo é a melhor
representante do estilo Neogótico em Rio Grande, a qual nos mostra a
ruptura da estética colonial portuguesa e a religiosidade de um povo
que expressa através do monumental, mas antes desse magnífico
templo a Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo possuía
uma igreja muito simples na cidade marítima, a então Vila do Rio
Grande do Sul.
Por decreto de 26 de fevereiro de 1777, do então principal e geral do Convento do Carmo do Rio de Janeiro, Frei Antônio das Chagas é autorizada a criação da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, sendo comissário, o reverendíssimo Padre Luiz de Medeiros Corrêa que delega seus poderes ao Vigário da Vara e Freguesia na Vila do Rio Grande, Padre José Gomes de Farias. Em 1780 é bento um altar, na matriz de São Pedro. Como a devoção a Nossa Senhora do Carmo estava crescendo, a Ordem Terceira do Carmo procura uma sede própria, afastando-se do local de origem, edificando a sua igreja.
Por decreto de 26 de fevereiro de 1777, do então principal e geral do Convento do Carmo do Rio de Janeiro, Frei Antônio das Chagas é autorizada a criação da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, sendo comissário, o reverendíssimo Padre Luiz de Medeiros Corrêa que delega seus poderes ao Vigário da Vara e Freguesia na Vila do Rio Grande, Padre José Gomes de Farias. Em 1780 é bento um altar, na matriz de São Pedro. Como a devoção a Nossa Senhora do Carmo estava crescendo, a Ordem Terceira do Carmo procura uma sede própria, afastando-se do local de origem, edificando a sua igreja.
Em 1800 dá-se início a
construção da igreja, sendo erguida no centro da Rua Dezesseis,
tinha a frente para a Rua da Praia (depois Dom Pedro II e hoje
Marechal Floriano), o estilo arquitetônico baseia-se no românico
sofrendo interferência do estilo colonial e manuelino.
A antiga Igreja do Carmo era
composta de uma nave única espaçosa, dois consistórios, sala
capitular, outras dependências, torres com sinos portugueses e um
cemitério que ficava nos fundos. Em 6 de novembro de 1809, o Padre
Francisco Ignácio da Silveira benzia solenemente o novo Templo da
Ordem Terceira do Carmo.
Infelizmente estando a igreja mal
localizada, no centro de uma rua, o governo do município tenta
desapropriar e demolir a igreja para abertura da Rua Dezesseis
(Benjamim Constant), devido ao crescimento da cidade. A demolição
da igreja ocorre em 1928, segundo proposta do Marechal Francisco José
Soares de Andréa nas “Discrições das Emendas ou Adições”
feitas ao Arruamento da Vila do Rio Grande de São Pedro.
Devido ao melhoramento da rua, é
então posto a baixo o prédio da Ordem do Carmo, já que a mesma
parecia um armazém com alguns altares, sem luxo ou objeto de valor.
Mas para que a demolição ocorresse o governo tratou a
desapropriação junto a Venerável Cúria Diocesana de Pelotas,
sendo oferecido um terreno mais amplo em algum lugar da mesma rua ou
em outro lugar da cidade, proposta que foi aceita pela Cúria
Diocesana. Após acerto com a Cúria os Carmelitas transferiram a
igreja para uma casa particular na Rua General Bacelar, onde
normalmente o culto religioso acontecia, durando até 1929, servindo
de igreja provisória.
No ano de 1929 é lançada a
pedra fundamental da nova Casa de Deus, que após a aprovação do
projeto do Reverendíssimo Frei Mariano de São José, dá-se início
as obras do monumental prédio em estilo Neogótico, a qual
representará o progresso, a arte e a devoção de um povo. Com a
intensificação das obras foi possível concluir a igreja, mesmo com
a transformação do cenário político nacional, com o golpe de
Getúlio Vargas, a nova constituição do Estado Novo, não
influenciaram nas obras, visto que, Rio grande ainda não tinha se
posicionado em relação ao assunto, vindo mais tarde a apoiar
Getúlio Vargas. O governo municipal era de responsabilidade do
prefeito Doutor Antônio Rocha de Meirelles leite, o qual permanece à
frente da administração da Prefeitura Municipal por dez anos.
A construção das torres teve que ser interrompida, uma vez que a situação
mundial era de terror pois estávamos na Segunda Guerra Mundial, onde
os recursos estavam todos concentrados para a guerra, mesmo o Brasil
não participando no primeiro momento do conflito, portando seria
necessário manter a obra estagnada o que ficou por muito tempo,
sendo construída em 1950. O templo Neogótico foi inaugurado
solenemente e oficialmente pelo Bispo Diocesano Sua Excelência
Reverendíssima Senhor Dom Joaquim Ferreira de Mello, Sua Excelência
Reverendíssima Senhor Dom Antônio Reis, egrégio Bispo de Santa
Maria no dia 22 de abril de 1938, havendo uma cerimônia com
convidados civis, militares e religiosos e uma festa coroando a
benção da mais nova igreja.
sábado, 14 de fevereiro de 2015
SOBRADO DOS AZULEJOS:
Histórico
da construção:
O “Sobrado dos Azulejos” é
um dos prédios tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico do Estado (IPHAE) e listado no Patrimônio Histórico
Municipal, na cidade do Rio Grande, iniciada sua construção em
1862, foi concluída em 1864, dois anos depois portanto. Em estilo
Neoclássico, esta localizado na esquina das ruas Marechal Floriano
Peixoto e Francisco Marques, próximo ao porto velho, uma das áreas
mais antigas da cidade.
Foi construído para servir de
residência ao comerciante Antônio Bonone Martins Vianna. O andar
inferior era reservado para o comércio. No final do século XIX, o
“London and Brazilian Bank" comprou o prédio para abrir uma filial,
permanecendo até a década de 20 do século passado e faliu devido à
crise econômica de 1929, quando foi vendido ao comerciante e
empresário Luis Loréa em 1938.
Nos últimos anos antes do
abandono, o Sobrado serviu como bar na parte térrea e casa de
cômodos no andar superior. O sobrado sofreu vários tipos de
depredação, tais como: vandalismo, roubo, pichação, intrusão
para moradia e outros. Antes de ser recuperado o
Sobrado apresentava um estado deplorável, lixo e vegetação
acumularam-se em seu interior e nas platibandas. Os azulejos que o
revestiam sofreram um processo de decomposição do esmalte,
descascando o mesmo até sobrar apenas a faiança. Suas sacadas
estavam enferrujadas, as aberturas apodrecidas e era preciso utilizar
madeira nas portas e janelas para o prédio não ser ocupado.
Segundo Symanski (1998), os
sobrados do século XIX eram construídos com o objetivo de
representação social, demarcando limites entre o público e o
privado. O sobrado do Brasil oitocentista, além de possuir valor
estético e financeiro, também possuía valor moral e social. A
imposição da opulência através da construção esta ligada à
unidade domiciliar (família), que desempenha função central e
delimitadora entro o público e o privado (lima, 1989). espalharam-se
pelas cidades brasileiras, bairros abastados e opulentos e com eles
os casarios, solares e sobrados, com a campanha de urbanização do
final do século XIX, é neste período que se encaixa a formação
da burguesia riograndina.
O século XIX é um período
de inovação, não só para a ciência mas também técnico
industrial. As letras, a filosofia, a arte, a música e outros
elementos europeus passam a ser incorporados no modo de vida
riograndino, trazendo consigo as características importadas da
Inglaterra e França. Na segunda metade deste século, no Brasil,
ocorre à substituição da mão-de-obra escrava pela imigrante,
transição de Império para República e é cenário de diversas
revoltas. A cidade do Rio Grande passa por profundas modificações
em âmbito social e estrutural urbano.
Já no século XX, ocorre o
processo de reestruturação do porto velho (próximo ao Sobrado) que
o transfere para outro local, próximo a entrada e saída de navios
na Barra de Rio Grande. O local no centro da cidade onde se
localizava o antigo porto sofre os resultados da transferência,
causando um declínio econômico daquela micro-região. Com a mudança
do porto para outro lugar, ampliam-se a abertura de cortiços,
meretrícios e bares. Em meados do mesmo século a zona compreendida
entre as ruas Riachuelo, Silva Paes e Barroso é conhecida como a
zona de meretrício, violência e perturbação social. Podemos
associar este fenômeno com o mesmo período de abandono e degradação
do Sobrado, que sofreu diretamente o impacto das transformações
econômicas ocasionadas pela transferência portuária.
Entre as décadas de 60 e 80
do século XX, o Sobrado passou a abrigar um bar noturno, o bar
utilizava o espaço térreo do Sobrado, enquanto os cômodos ficavam
no andar superior. Em abril de 1998, a Associação Pró-Preservação
do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (APHAC), de Rio
Grande, adquiriu o prédio com verba doada pelo Grupo Ipiranga, o
qual promoveu sua restauração.
Referências: Pestana, Marlon.
Contribuição para o registro arqueológico no Sobrado dos Azulejos.
Rio Grande, 2003.
sábado, 7 de fevereiro de 2015
HISTORICO DA PRAÇA TAMANDARÉ:
Os mapas do século XVIII indicam
o espaço hoje ocupado pela Praça Tamandaré como um anecúmeno
formado por cômoros de areia. A continuidade da Rua General Bacelar
até a atual 24 de Maio teve uma importância crescente pelo fato de
concentrar-se neste local grande parte do contingente militar e a
Casa do Governador.
O terreno em frente aos
estabelecimentos militares e de administração foi denominado de
Praça dos Quartéis, devido à proximidade de edificações
militares chamada popularmente de geribanda ou giribanda. Segundo
Antenor Monteiro, esta palavra poderia ter origem no acesso de
escravos e populares para esta área arenosa constituída por algumas
lagoas, com objetivo de coletarem água potável para seus
proprietários, encherem pipas para venda pública do líquido ou
para lavarem roupas. Monteiro entende que o “ajuntamento de pessoas
neste local poderia trazer disputas, sarabandas (descomposturas) e
até mesmo lutas corporais, que poderiam fazer daquele local uma
giribanda”. O nome atual de Praça Tamandaré foi uma homenagem da
Câmara Municipal do Rio Grande em sessão realizada no dia 20 de
abril de 1865 ao Almirante Joaquim Marques Lisboa. Sua atuação na
Guerra do Paraguai o fez patrono da Marinha do Brasil.
Em 1820, visitando a então Vila
do Rio Grande, Auguste Saint-Hilaire (Viagem ao Rio Grande do Sul)
escreveu: “como já tenho dito, não há aqui nascentes, nem fontes
de água doce, mas atrás da cidade, entre os montículos de areia
(em lugar denominado Geribanda), cavaram-se poços, onde a pequena
profundidade se encontra muito boa água. Estima-se que a população
do Rio Grande em cerca de dois mil habitantes entre os quais há
muito europeus e apenas um pequeno número de mulatos”.
No mapa urbano de 1829, a área
da praça aparece descrita como um “terreno arenoso com combros e
por isso incapaz de se povoar presentemente”.
A expansão urbana foi
incrementando a valorização daquele vasto terreno situado próximo
ao centro da Vila do Rio Grande de São Pedro (1751), localidade que
desde 1835 passou a condição administrativa de Cidade do Rio
Grande.
Antes de tornar-se um espaço
público, ocorreram várias disputas pela ocupação da área para
fins particulares, religiosos e industriais. No jornal Diário do Rio
Grande de 24 de dezembro de 1850 foi feita uma denúncia sobre a
ocupação da área por “alguns cidadãos ilustres da cidade” que
supostamente teriam recebido terrenos no local a partir da
autorização da Câmara de Vereadores. Como o consumo de água
potável ficaria comprometido com a ocupação, investigou-se a
legalidade da atuação e descobriu-se que a câmara não havia
autorizado oficialmente a distribuição de terrenos. Rechaçando
desta forma a pretensão dos “ilustres” que já haviam cercado
seus terrenos.
Coube a Câmara Municipal
participar do embate pela disputada ocupação daquele amplo terreno
arenoso e alagadiço. A definição deste espaço como público e não
privado definiu-se a partir de debates e requerimentos negados ou
aprovados. A pressão de políticos, em 1887, para que fosse
efetivada a construção de um novo templo serviu para ações no
sentido de definição da área como espaço público, pois a câmara
indeferiu o pedido e inciou o aterramento e o ajardinamento de uma
parte do terreno. Em 1891, um novo pedido de construção de uma
capela foi indeferido pelos vereadores.
Em documentos resgatados por
Antenor Monteiro, uma nova tentativa, agora voltada à ação
industrial, foi desfechada em 1893. Em um ofício encaminhado pelo
Coronel Augusto de Carvalho, intendente municipal, à Câmara de
Vereadores: “Cidadãos Conselheiros Municipais: o cidadão Giovanne
Heusemberger & Cia., requerem a esta intendência por aforamento
perpétuo uma parte ou duas quadras da Praça Tamandaré, limitadas
pelas ruas General Neto, 24 de Maio e Conde de Porto Alegre, para
estabelecer uma fábrica de tecidos, oferecendo a quantia de 5000$000
para melhoramentos materiais”. A concessão foi aprovada pela
câmara com o voto contrário de um vereador, Carlos Rheingantz, uma
vez que a empresa Giovanne Heusemberger era uma concorrente no ramo
da indústria têxtil.
A praça foi preservada, pois o
proprietário da indústria resolveu instalar-se noutro local. Também
a indústria de Charutos Pook & Cia., tentou estabelecer-se na
praça, porém, teve seu pedido negado pelo Conselho Municipal.
A área parcialmente alagada
também deixou registros de mortes como foi relatado no jornal Diário
do Rio Grande de 23 de julho de 1859, quando um soldado foi
encontrado morto em seu interior. Em 1874, outro homem, embriagado,
foi encontrado sem vida numa das lagoas, num periodo de chuvas
fortes.
Um dos poços e
o tanque para bebedouro dos animais foram construídos em 1848. A
câmara no ano de 1862, mandou cercar a praça “por marcos e duas
ordens decorrentes, para que os animais não embacem os melhoramentos
que seriam arborizar e fazer um tapete de relva em vez de areias”.
No início da década de 1870
havia na praça cinco poços construídos com tijolos e cantaria e um
bebedouro para animais e para consumo da população. Ainda em abril
de 1870, a Presidência da Província ordenou a Diretoria da Fazenda
que liberasse recursos para o aterramento da praça. O projeto de
melhoramentos de 1876 propunha fazer uma canalização que
concentrasse toda água acumulada na praça em um único lago
central, cercado por árvores. Porém as dificuldades de percorrer a
praça no período de chuvas, o que a tornava intransitável,
mantinha a situação sem solução ainda no ano de 1878, apesar dos
debates buscando soluções prosseguirem. Em 1876 a Companhia
Hidráulica comprou na Inglaterra o chafariz situado na proximidade
da Rua General Neto com Silva Paes. Em 1878 foram fechados os poços
por exigência do contrato feito com a Companhia Hidráulica.
De acordo com Antenor Monteiro,
em outubro de 1887, a Câmara “por intermédio da comissão, que
para isso fora nomeada, contratou o Dr. Duprat, diretor da Companhia
Estrada de Ferro, pra o transporte diário de 135 wagons (vagões) de
areia para aterro da praça a razão de 11$500. no mesmo ano, sob o
projeto de engenheiro da Câmara, foi iniciado o plano geral do
embelezamento da praça. Em 1890 foram despejados 175 wagons de
areia”. Em 13 de janeiro de 1890, foi ordenada a retirada e a venda
do aramado da praça por este se encontrar em mau estado de
conservação.
Fontana, um escritor rio-grandino
do século XIX, destacava a Praça Municipal como “vasta praça e
único passeio recreativo da cidade, é comumente denominada de
Boulevard Rio-Grandense”, porém, “lamenta-se que não mereça
mais atenção da edilidade. Já na Praça Tamandaré existiam seis
fontes públicas para coleta de água e lavagem de roupas,
erguendo-se no centro desta “uma modesta cruz ali colocada em 1842
pela missão jesuítica a estas plagas”. A praça já ostentava a
denominação de Tamandaré,
mas mantinha sua função ligada às fontes públicas ali existentes
sem a perspectiva imediata de tornar-se uma praça voltada ao
“passeio recreativo da população”.
Área almejada e que se valorizou
com o desenvolvimento da cidade, a Praça Tamandaré começou a
receber uma atenção mais destacada a partir de 1895, através de
projetos de melhoramentos que se estenderam até o ano seguinte. O
projeto previu a construção de chalé, plantação de mudas de
árvores, ajardinamento, construção de lagos e ilhotas. Em 1896
nestes lagos faltava somente a colocação do revestimento de fundo
composto por barro oriundo de Pelotas, portanto os lagos remontam a
pelo menos o ano citado.
Na virada do século XX, a praça
já tem um destaque estadual pelo espaço de lazer que passa a
proporcionar à população e pela apresentação de bandas musicais
como é o caso da Banda Rossini.
Ainda
no início do século passado o papel de fornecer água potável foi
mantido e a figura dos cata-ventos eram presentes na praça, tendo
como objetivo, talvez, a remoção do excesso de água do lago em
períodos chuvosos. Os primórdios desta instalação podem ser do
final do século XIX, mas talvez remonte até meados do século
XVIII, numa prática açoriana, pois um mapa de aproximadamente 1750
apresenta o desenho de um cata-vento em local próximo a atual Praça
Tamandaré. O cata-vento
que aparece nas antigas fotos da praça, localizado nas ruas General
Neto com Luiz Loréa tinha como função a captação de água e o
acionamento de um chafariz.
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